terça-feira, 31 de outubro de 2017

Futebol no Brasil

Registro do fato é fundamental!
Nicanor de Freitas Filho

            Domingo fui ao Colégio São Luis, ver um jogo de futebol do meu neto de 10 anos, que estuda lá. Não poderia deixar de ir, pois na semana passada, quando fui buscá-lo lá no Colégio, ele orgulhosamente me mostrou uma carta que tinha recebido do Setor de Esportes do Colégio. Era uma Carta de Convocação para os Jogos de Interamizade que fui ver.
            Durante o período que estava lá aguardando o início do jogo, fiquei lembrando do Livro que ele me trouxe em 2014, chamado: “Pontapé Inicial para o Futebol no Brasil” de Paulo Cezar A. Goulart. Também me veio à memória outro Livro: “Guia Politicamente Incorreto do Futebol” de Jones Rossi e Leonardo Mendes Junior. Ambos os livros tratam de futebol, obviamente!
            Todos sabemos, não só pelos livros, como por qualquer pesquisa que se fizer na Internet, que quem trouxe o futebol para o Brasil foi Charles Miller, que era filho de um funcionário da São Paulo Railway – empresa britânica que construiu e administrou as estradas de ferro no Brasil – e por isso foi mandado, com o irmão John Miller, para estudar na Inglaterra, em 1884 e lá conheceu, gostou e mostrou habilidades para o esporte que nascera há pouco, chamado de “football”. Na Europa era comum nas Escolas que além do ensino, também se ensinava e praticava esportes. Retornou ao Brasil no final do ano de 1894 – depois de dez anos estudando e jogando “football” – trazendo, segundo dizem, duas bolas de capotão e uma bomba para enchê-las, um par de chuteiras, bem como as regras escritas em 1863 pela Universidade de Cambridge, do referido “football”. Logo iniciou o processo de catequização dos britânicos, e outros amigos, que nos clubes de São Paulo, preferiam jogar críquete. Reunia os amigos ensinava e fazia sua peneira para formar o time da São Paulo Railway. E assim, no dia 14 de abril de 1895 foi realizado o primeiro jogo de futebol, devidamente registrado, com súmula e tudo, entre o time da São Paulo Railway que enfrentou o The Gas Works Team e venceu por 4 a 2. Este é o primeiro registro formal de uma partida de futebol no Brasil.
            No livro do Rossi e Mendes Junior, “Guia Politicamente Incorreto do Futebol”, nas páginas 28 a 31 eles tratam de um “outro precursor” do Futebol brasileiro, que seria o escocês Thomas Donohoe, que foi trabalhar na Fábrica de Tecidos Bangú, e ajudou a fundar o Bangú Athletic Club, já em 1903. Chegara ao Brasil em meados de 1894 e teria pedido para sua esposa e filhos trazerem material para jogar futebol. Ela e os filhos chegaram no Brasil em setembro de 1894, antes portanto de Charles Miller. Ele seria um centroavante de “espírito peladeiro” e logicamente não anotou nada. Portanto nada se tem registrado das “peladas” ocorridas no Rio de Janeiro. Eles falam também, nas páginas 23 e 24, sobre jogo, que seria futebol, jogado por marinheiros ingleses, franceses e holandeses nas praias do Rio onde hoje fica o Hotel Glória. Isto nos anos de 1875.
            Ainda no livro citado acima, eles tratam do futebol no Colégio São Luis, que ficava na cidade de Itú, São Paulo, mas não contam tudo que está no outro Livro que citei “Pontapé Inicial para o Futebol no Brasil” de Paulo Cezar Alves Goulart, que relata “O bate-bolão e os esportes no Colégio São Luis: 1880-2014”. Aqui neste livro, do Colégio São Luis, Editado pela A9 Editora, podemos observar muito mais coisas.
            Começa com a chegada do Padre italiano José Maria Mantero, em 1877, quando se tornou reitor do Colégio São Luis em Itú. Conhecedor dos métodos de ensino ligados à prática esportiva, trouxe para o São Luis várias melhorias, nos exercícios e jogos, como exercícios militares, ginástica alemã, lançamento de disco e de dardo, malha, salto em altura e distância, corrida de obstáculos, barra francesa, dentre estes a partir de 1880 o bate-bolão, com a bola então chamada de “ballon anglais”, ou bola de futebol! Seria o esporte precursor do futebol? Os alunos eram incentivados a chutar a bola contra as paredes e muros, mas como exercício e não tinha competição. Entre 1879 e 1891 o Padre Mantero teria feito várias viagens à Europa onde pode observar “a movimentação dos alunos nos pátios durante os recreios do Colégio de Vannes, na França, e da Harrow School, na Inglaterra. Era ali – juntamente com as informações obtidas com reitores , prefeitos e educadores desses colégios –, bem como em outros colégios, que estava a fonte para a renovação dos jogos e das atividades esportivas ao ar livre a serem implantadas no Colégio São Luis de Itu. E assim puderam presenciar, entre outras modalidades que ainda desconheciam, uma, denominada football, cuja instituição organizadora, a Football Association, havia sido fundada em 1863, na Inglaterra.” (Pág. 23) Mais adiante o livro traz: “Ainda não havia times (formação de equipes com 11 jogadores uniformizados), nem delimitação e demarcação de campo, traves e nem um conjunto de regras – conforme estabelecia a denominada Football Association. Assim, o bate-bolão, durante alguns anos, até 1887, foi praticado por alunos do Colégio São Luis – entre eles, o futuro presidente de São Paulo, Altino Arantes –, incentivados pela participação dos padres...” (Pág. 27)E finaliza: “Tratava-se de um 'futebol de caráter pedagógico', para o desenvolvimento físico, sem a preocupação da competição para as assistências, sob o controle de entidades dirigentes. Então, o que afinal eles estavam jogando?”(Pag. 27) Finalmente na página 29 conclui: “A brincadeira...,era uma forma de convívio inicial daqueles jovens com elementos imprescindíveis ao futebol, que os jesuítas viram ser praticado em colégios jesuítas europeus: uma bola feita especificamente para esse esporte, uso obrigatório dos pés para chutar a bola (não podia usar as mãos) a existência de um local para onde deveriam direcionar seus chutes – a parede ou as muretas da escola....prática absolutamente lincada com o futebol, e somente com o futebol, por meio de algumas regras e procedimentos... singulares e indissociados de um único esporte que então e assim se praticava: o FUTEBOL. E portanto: “...era um exercício destinado a constituir um treino para um fim bem definido: JOGAR FUTEBOL”.
             “Seria então o futebol...?” Pergunta feita no Livro...
            Bem, cada um tire as suas conclusões... Para quase todo mundo, vale o que está devidamente registrado. O Registro do fato é fundamental! Parabéns ao Charles Miller que soube organizar e registrar tudo!
            O fato é que fui ver o meu neto Guilherme jogar contra o Colégio Santo Agostinho e eles ganharam um dos jogos por 4 a 1 e perderam o segundo jogo para o Colégio Rosário. No jogo que venceram ele fez um dos gols – e eu vibrei – que o pai dele filmou e segue abaixo. Ele está com a camisa 8 vermelha.

          

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Nicanor de Freitas Filho