Nicanor de Freitas Filho
Tendo publicado o causo anterior do Yellow Legal Pad, fui
questionado, por e-mail e WhatsApp sobre vários assuntos. Um deles eu já
corrigi, que é o nome da rede de Lojas dos Estados Unidos, que é Woolworth e
não Wentworth, como publiquei. Peço desculpas pelo lapso de memória! Na verdade
Wentworth era o Hotel em que eu costumava ficar, na Rua 46, em Nova Iorque, por
ser bem perto do Consulado do Brasil. Hoje esse hotel passou a se chamar The
Hotel @ Times Square. Mas está lá do mesmo jeitão que era. A outra coisa que me
questionaram foi a foto em que escrevi em baixo: “Como tudo começou Capas
Artísticas da CMSP”. Querem saber o que vem a ser isso. Que se dê o nome, que
explique o que começou! Então vamos lá. Se eu cometer outro “errinho” peço que
o Oscar ou o Dr. Murilo me corrijam...
Nos anos de 1976 e 1977 a Cia. Melhoramentos contratou
vários artistas plásticos brasileiros para apresentar quadros que fossem
exclusivos, inéditos e que pudessem ser reproduzidos nas capas de cadernos
espirais, cuja coleção se chamou “Arte Aplicada”. E trazia, além das capas
artísticas, uma minibiografia do autor e o método e material que ele utilizara
para confecção da tela. Era realmente uma novidade e uma forma natural de
divulgação da arte. Essas telas, depois de fotografadas foram emolduradas e
colocadas numa “Galeria”, que era o corredor das salas dos Diretores da
Melhoramentos. Não sei onde elas estão hoje, uma vez que o prédio está sendo
reformado...
Bem, o Dr. Murilo, que tinha muito conhecimento com
vários artistas plásticos, e era amigo de um deles, o Sr. Nicola, que é autor
de uma das capas, possivelmente através dele, fez contato com o Instituto Cultural
Brasil Estados Unidos, que se interessou pelas obras e para a finalidade que
foram feitas. Entenderam aquilo como uma manifestação cultural e divulgação de
artes plásticas que era muito inteligente, pois os cadernos seriam utilizados
por estudantes. Daí surgiu a ideia de se fazer uma Exposição dos quadros
originais e das reproduções nas capas dos cadernos, lá na sede do Instituto
Cultural em Washington. Para se ter uma “razão” de levar as obras e convidar as pessoas para visitar a
Exposição, foi feita uma atividade filantrópica. A Cia. Melhoramentos despachou
cerca de duas mil unidades dos cadernos, que foram vendidos a por volta de US$
5,00 cada, para ajudar ao Hospital Infantil de Washington. Ou seja, foi feita
uma atividade cultural filantrópica e que teve muito sucesso.
Logicamente a Melhoramentos não fez isto apenas para ajudar
ao Hospital Infantil de Washington, mas foi também uma excelente maneira de
introduzir e ao mesmo tempo testar a aceitação dos produtos nos Estados Unidos.
Nesta operação descobriu-se muitas coisas e muitos interessados em importar
“stationery” do Brasil por vários motivos. Um deles, obviamente era o bom
preço, pois os produtos estavam enquadrados na lei que privilegiava certos
produtos, de países em desenvolvimento, isentando-os do Imposto de Importação.
Bem como o Brasil tinha uma Lei que não só isentava os produtos de todos os
impostos, como ainda creditava o valor do IPI do produto exportado.
Descobriu-se aí que os formatos dos nossos cadernos, bem
como a pautação, a gramatura do papel, forma de comercialização eram bastante
diferentes do Brasil, ou seja, teríamos que nos adaptar às exigências do
mercado de lá. Foi assim que começamos a participar das feiras de produtos,
principalmente em Nova Iorque, sendo a principal delas a “Back-to-School”, que
era realizada sempre em meados de fevereiro, sempre com muita neve e frio, e,
nos três primeiros anos acontecia no Colliseum – no cruzamento da Broadway com
Central Park e Rua 59 – e depois no Javits Center, na 11ª Avenida, esquina com
a Rua 34.
Numa dessas feiras conheci o Sr. Dick Crawford, comprador
da rede de supermercados Meijer, de Grand Rapids, Michigan, que gostou dos
nossos produtos e propôs fazermos as capas com o nome da Empresa. Ele passou a
vir ao Brasil todos os anos e descobriu que existiam outras fábricas de
cadernos, que também passaram a participar das feiras. Então ele vinha ao
Brasil, fazia um orçamento comigo, depois ia à Propasa fazia o mesmo orçamento
e dizia que tinha os preços da Melhoramentos melhores. Então a Propasa baixava
os preços para ele. Ia na Salesianos e fazia a mesma coisa. Ia na Tilibra e
fazia a mesma coisa. A Tilibra, para pegar o cliente, baixava o preço para ele.
Então voltava na Melhoramentos e me mostrava os preços da Tilibra e dizia que
nem tinha negociado ainda. Poderia baixar mais. Então sentávamos, procurávamos
acertar um preço para ele. Ele foi, por muito tempo, o melhor cliente que
tivemos nos Estados Unidos.
Até que chegou uma hora que tínhamos de resolver o
problema e em conversa numa reunião na ABIGRAF, resolvemos formar um Consórcio
para Exportação. Reunimos na sede da Melhoramentos, com Dr. Murilo, Sr. Anis
Aidar e Anis Filho, da Propasa, Sr. Luiz Antonio da Tilibra e formamos o
Consórcio, que se chamou PROTIME (PROpasa
– TIlibra – Melhoramentos). E os nossos representantes nos Estados Unidos
gostaram muito do nome. Lembro do Daniel Kendzie dizendo: “That sounds
fine”.
Por motivos de antiguidade eu fui nomeado “Gerente do Consórcio Protime”.
Na primeira visita que o Sr. Dick nos fez, após a criação
do Protime, eu o atendi na Melhoramentos. Ele tinha marcado na Propasa à tarde.
Quando chegou lá eu o atendi junto com o Sr. Sérgio. Na Tilibra, o dia seguinte
eu o atendi juntamente com o Sr. Machado. Ele começou a rir e disse: “Vocês
foram inteligentes, mas eu sei os preços que negociamos e vamos mantê-los. E,
para mim é melhor! Vou ter menos trabalho...” Nota: melhoramos muito as margens de lucro dos produtos para nós, é claro!
Não posso deixar de contar que logo depois de formar o
Consórcio, fui apresentado ao Sr. Friedrich Dworak, da Trading austríaca Wipco,
pelo Sr. Ocean que era Exportador da Cia. Suzano, e me foi pedido um orçamento
muito grande. Não me lembro o número de cadernos, mas enchiam 88 containers de
20 pés e somava mais de um milhão de dólares. Era para um Príncipe Árabe
abastecer seu território. E assim, pela primeira vez fui para Europa – embora
já exportasse para lá, mas nunca tinha ido, sempre recebia as visitas aqui –
fechamos um grande pedido de cadernos e as três fábricas trabalharam durante 60
dias e não conseguimos embarcar os 88 containers, pois a Carta de Crédito
venceu e tínhamos embarcado somente 82 containers. Mas foi o maior pedido
individual que consegui na Exportação de cadernos. Sei que no ano seguinte – e
eu já não estava mais na Melhoramentos – foi feito um pedido ainda maior, pelo
mesmo Príncipe, via Wipco. No dia que veio nos visitar, depois do pedido fechado
o Sr. Dworack me trouxe um litro de whisky Dimple Especial, que o tenho guardado até
hoje, ou seja, há mais de 30 anos... Deve estar bom hein?
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Nicanor de Freitas Filho