Nicanor de Freitas Filho
Nos quarenta e três anos que trabalhei, sempre houve nos
finais de ano, as festas do “amigo secreto” ou “amigo oculto” como dizem no Rio
de Janeiro. Sempre super- divertidas e muitas vezes difíceis de resolver
dependendo do nome que você tirava... Nos últimos anos que participei, sempre
era estabelecida uma faixa de preços para evitar “constrangimentos”. Lembro-me
perfeitamente de um ano que, curiosamente um participante tirou o nome de quem
tirou também o seu nome. Então na hora da entrega, um deles deu uma garrafa de
cachaça ruim, com a curiosidade que a garrafa era toda amassada e segundo ele nem
dava nem para guardar. Entretanto ele havia comprado para o seu “amigo” uma
caneta Cross, que na época era cara para os padrões de amigo secreto. Naquele tempo
– anos 70 – usava-se muito a caneta.
Pois bem, tínhamos um colega na empresa, cujo apelido era
“Bolinha” – lembra bem o Rodrigo Maia – e sempre muito “nervosinho” e vivia
levando gozações. No jogo do amigo secreto, tirou o nome dele a chefe dos Serviços
de Secretaria, que era muito divertida e criativa. Ela comprou de presente para
Bolinha uma linda camisa social branca, pois era obrigatório o uso da gravata
naquela época. Mas antes de entregar a camisa ela lhe entregou uma enorme
caixa, provavelmente de um fogão, muito bem embrulhada com papel de presente, laço
de fita e tudo mais. O Bolinha viu que não era um fogão, pois ela estava
carregando a caixa. Ao desembrulhar encontrou uma caixa menor, também embalada
para presente com laço de fita. Ao abri-la encontrou outra caixa menor e assim
foram umas oito ou dez caixas, sempre bem embaladas até chegar numa caixa menor que uma caixa de
sapatos que parecia vazia, pois ele sacudiu e não fez barulho e estava muito
leve. Ele pensou em jogá-la fora, mas não deixaram. Quando ele levantou a
tampa, tinha uma “bolinha” de ping-pong, presa com fita adesiva. O “Bolinha”
jogou-a no chão e sapateou sobre a caixa todo nervosinho... Depois de reclamar
muito, no meio daquela papelada toda, a Secretária lhe entregou a linda camisa.
Foi uma brincadeira muito bem bolada e executada, que nos fez rir muito.
Inesquecível!
Anos depois, numa outra empresa, que ficava na Rua
Quintino Bocaiuva, foi feita a festa do amigo secreto e foi estipulado o valor
mínimo de Cr$ 30,00. Bem em frente a empresa, constantemente ficava um “Camelô-Ambulante”,
que vendia um mundo de bugigangas, entre elas, uma Pantera-cor-de-rosa, de
plástico que custava Cr$ 5,00. Essa empresa é a mesma em que ocorreu, um ano
antes, a troca da garrafa de cachaça pela Caneta Cross. Então, lembrando-se do
fato, o Contador da empresa disse, que pelo menos, não poderia ganhar a
Pantera-cor-de-rosa, pois só custava Cr$5,00. Adivinha quem tirou o nome dele?
A Secretária dele, que estava ao seu lado, quando disse sobre a
Pantera-cor-de-rosa. Ela comprou um par
de sapatos que ele tinha visto e manifestado o desejo de adquiri-lo. Só que
comprou também a Pantera-cor-de-rosa, e colocou-a junto com um saquinho de
areia – para ficar pesado – na caixa do desejado sapato. Fez um lindo pacote de
presente, com cartão e tudo mais. A tradição era que os presentes ficavam todos
em cima da mesa de reunião e era sorteado o nome da pessoa que iria entregar o
presente. Ele pegava o presente e dava algumas dicas sobre a pessoa que ia
ganhá-lo. E só fazia a entrega quando o ganhador se descobria, com as dicas e
se apresentava.
Pois bem, a Secretária pegou a caixa de sapatos, falou
alguma coisa sobre o Contador, ele por duas vezes chegou a se movimentar para
se apresentar, mas ainda não tinha se convencido de que era ele mesmo. Até que
ela deu a dica do sapato ele se apresentou, pegou o pacote todo feliz, estava
pesadinho por causa do saquinho de areia e abriu o pacote. Quando deu de cara com
a Pantera-cor-de-rosa, deitadinha em cima do saco de areia, a reação dele foi
exatamente igual à do Bolinha – que ele nem conhecia – jogou no chão e sapateou
sobre o brinquedo de plástico, destroçando-o... Não dava nem para levar de
presente para alguma criança... Aí então, a Secretária pegou um saquinho,
desses de cordão e entregou para ele o sapato desejado, antes que ele sofresse
um infarto!
Ambos, os presenteados – Bolinha e o Contador – ficaram
muitos bravos, mas para nós que assistimos as brincadeiras, foi tudo muito
divertido, tanto que não esqueço!
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Nicanor de Freitas Filho