terça-feira, 26 de setembro de 2017

Amigo Secreto

Nicanor de Freitas Filho

            Nos quarenta e três anos que trabalhei, sempre houve nos finais de ano, as festas do “amigo secreto” ou “amigo oculto” como dizem no Rio de Janeiro. Sempre super- divertidas e muitas vezes difíceis de resolver dependendo do nome que você tirava... Nos últimos anos que participei, sempre era estabelecida uma faixa de preços para evitar “constrangimentos”. Lembro-me perfeitamente de um ano que, curiosamente um participante tirou o nome de quem tirou também o seu nome. Então na hora da entrega, um deles deu uma garrafa de cachaça ruim, com a curiosidade que a garrafa era toda amassada e segundo ele nem dava nem para guardar. Entretanto ele havia comprado para o seu “amigo” uma caneta Cross, que na época era cara para os padrões de amigo secreto. Naquele tempo – anos 70 – usava-se muito a caneta.
            Pois bem, tínhamos um colega na empresa, cujo apelido era “Bolinha” – lembra bem o Rodrigo Maia – e sempre muito “nervosinho” e vivia levando gozações. No jogo do amigo secreto, tirou o nome dele a chefe dos Serviços de Secretaria, que era muito divertida e criativa. Ela comprou de presente para Bolinha uma linda camisa social branca, pois era obrigatório o uso da gravata naquela época. Mas antes de entregar a camisa ela lhe entregou uma enorme caixa, provavelmente de um fogão, muito bem embrulhada com papel de presente, laço de fita e tudo mais. O Bolinha viu que não era um fogão, pois ela estava carregando a caixa. Ao desembrulhar encontrou uma caixa menor, também embalada para presente com laço de fita. Ao abri-la encontrou outra caixa menor e assim foram umas oito ou dez caixas, sempre bem embaladas até  chegar numa caixa menor que uma caixa de sapatos que parecia vazia, pois ele sacudiu e não fez barulho e estava muito leve. Ele pensou em jogá-la fora, mas não deixaram. Quando ele levantou a tampa, tinha uma “bolinha” de ping-pong, presa com fita adesiva. O “Bolinha” jogou-a no chão e sapateou sobre a caixa todo nervosinho... Depois de reclamar muito, no meio daquela papelada toda, a Secretária lhe entregou a linda camisa. Foi uma brincadeira muito bem bolada e executada, que nos fez rir muito. Inesquecível! 
            Anos depois, numa outra empresa, que ficava na Rua Quintino Bocaiuva, foi feita a festa do amigo secreto e foi estipulado o valor mínimo de Cr$ 30,00. Bem em frente a empresa, constantemente ficava um “Camelô-Ambulante”, que vendia um mundo de bugigangas, entre elas, uma Pantera-cor-de-rosa, de plástico que custava Cr$ 5,00. Essa empresa é a mesma em que ocorreu, um ano antes, a troca da garrafa de cachaça pela Caneta Cross. Então, lembrando-se do fato, o Contador da empresa disse, que pelo menos, não poderia ganhar a Pantera-cor-de-rosa, pois só custava Cr$5,00. Adivinha quem tirou o nome dele? A Secretária dele, que estava ao seu lado, quando disse sobre a Pantera-cor-de-rosa.  Ela comprou um par de sapatos que ele tinha visto e manifestado o desejo de adquiri-lo. Só que comprou também a Pantera-cor-de-rosa, e colocou-a junto com um saquinho de areia – para ficar pesado – na caixa do desejado sapato. Fez um lindo pacote de presente, com cartão e tudo mais. A tradição era que os presentes ficavam todos em cima da mesa de reunião e era sorteado o nome da pessoa que iria entregar o presente. Ele pegava o presente e dava algumas dicas sobre a pessoa que ia ganhá-lo. E só fazia a entrega quando o ganhador se descobria, com as dicas e se apresentava.
            Pois bem, a Secretária pegou a caixa de sapatos, falou alguma coisa sobre o Contador, ele por duas vezes chegou a se movimentar para se apresentar, mas ainda não tinha se convencido de que era ele mesmo. Até que ela deu a dica do sapato ele se apresentou, pegou o pacote todo feliz, estava pesadinho por causa do saquinho de areia e abriu o pacote. Quando deu de cara com a Pantera-cor-de-rosa, deitadinha em cima do saco de areia, a reação dele foi exatamente igual à do Bolinha – que ele nem conhecia – jogou no chão e sapateou sobre o brinquedo de plástico, destroçando-o... Não dava nem para levar de presente para alguma criança... Aí então, a Secretária pegou um saquinho, desses de cordão e entregou para ele o sapato desejado, antes que ele sofresse um infarto!
            Ambos, os presenteados – Bolinha e o Contador – ficaram muitos bravos, mas para nós que assistimos as brincadeiras, foi tudo muito divertido, tanto que não esqueço!

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Nicanor de Freitas Filho