quarta-feira, 2 de agosto de 2017

Primeira lembrança da Política

Nicanor de Freitas Filho

            Em 1.950, fomos morar em Uberaba, MG, na Rua Padre Zeferino, não me lembro o número, mas era em frente a uma venda/bar, e mais a esquerda ficava a oficina de acumuladores (baterias) do Romeu Moreno e seu irmão.
            Lembro-me pouca coisa daquela época, mas algumas são muito importantes, como dos carros, motos e bicicletas, que passavam na rua, jogando cédulas eleitorais, para propaganda dos políticos, candidatos à Presidência da República. Na verdade, só me lembro de ver cédulas de Getúlio Dorneles Vargas e Eduardo Gomes. Geralmente tinham dois tipos de cédulas, umas num papel tipo jornal, que usávamos para fazer aviõezinhos e outras em papel melhor, branco, que usávamos para fazer canudos, aqueles de soprar. É que naquela época, a eleição era feita em cédulas de papel, que eram colocadas dentro do envelope, que iam para as urnas. Não me lembro bem, mas acho que se votava para Presidência e Vice-presidência em separado. Então se tinha muitas cédulas. Dava para brincar muito. Eu estava então, com 6 anos e ainda não estudava.
            Um fato marcante foi que, às vésperas das tais eleições, o Dr. Getúlio, que então era Senador, foi fazer um comício em Uberaba, cujo prefeito era o Dr. Boulanger Pucci, que foi ao Aeroporto para recepcioná-lo. Parecia uma festa em Uberaba, pois o Dr. Getúlio tinha “governado” o Brasil por 15 anos, de 1.930 a 1.945, na verdade uma Ditadura – muito dura – mas ele era ainda um “mito” político. Lembro-me então, que meu Pai chegou em casa, mandou minha Mãe colocar roupa de domingo em nós – lembro-me de minha Mãe grávida, com uma barriga enorme – e fomos para o comício na Pça. Rui Barbosa. Estávamos, acredito que na Rua do Comércio, com a praça lotada, que não conseguíamos chegar lá, brincando e, provavelmente, chupando bala Chita, ou tomando picolé de groselha, que eram as coisas baratas que podíamos ter. Meu Pai se afastou um pouco com alguns companheiros, talvez o Tio Santo também e ficamos ali no meio daquele povão, com muito calor, que não é novidade em Uberaba. De repente, meu Pai chegou correndo pegou em nossas mãos e disse, vamos embora que deram um tiro no Prefeito Boulanger Pucci. Isto aqui está perigoso! E fomos embora, sem festa e com medo. (momento marcante)
            Pesquisando agora na Internet, descobri que tal fato se deu no dia 10 de setembro de 1950. Meu irmão Luiz nasceu no dia 24 de setembro de 1950. Imaginem como deveria estar minha Mãe, quatorze dias antes de dar à luz. Esta é a primeira lembrança que tenho da política brasileira.
            Resultado é que o Dr. Getúlio ganhou as eleições de Eduardo Gomes e voltou a governar o Brasil até o dia 24 de agosto de 1954, dia em que se suicidou. Nesse período, criou duas das mais importantes estatais para o Brasil, a Petrobras e a Eletrobras, mas levou o Brasil pelo caminho “nacionalista-estadista” do mal sentido, quase que comunista, principalmente quando convidou João Goulart – o Jango – para o Ministério do Trabalho, que como primeiro ato, propôs o aumento salarial de 100%, o que irritou os empresários e principalmente ao Deputado da UDN Sr. Carlos Lacerda, que sem dúvida, foi o mais duro adversário de Getúlio.
            Getúlio, foi o mais populista dos Presidentes do Brasil, antes do Lula. Já na época de sua Ditadura, tinha criado muitos benefícios aos trabalhadores, a CLT, os sindicatos, com toda estrutura financeira e sempre procurava um jeito de ganhar o “povão”. Por isso ele arranjava muita “encrenca” com a classe empresarial. Carlos Lacerda fazia uma pressão muita dura, como deputado que era e conseguiu angariar uma antipatia, muito além da política, de Getúlio Vargas. Pois este, além de populista, era sabido que fazia muitas coisas erradas, que naquela época, ficava tudo escondido.  Chegou ao ponto de o Deputado Carlos Lacerda sofrer um atentado, cujo executor foi o Gregório, o principal guarda-costas de Getúlio. Com isso os políticos começaram a pressioná-lo para renunciar, para que o Tribunal Superior não tivesse o constrangimento de julgá-lo, pois todos sabiam de sua participação, ou no mínimo, seu conhecimento dos fatos. Ele foi ficando acuado e quando foi no dia 24 de agosto de 1954, suicidou-se, com um tiro no peito. De qualquer forma foi um trauma muito grande para a nação, creio que até para Carlos Lacerda.
            Isto é o pouco que me lembro do primeiro Presidente da República do Brasil, que “me presidiu”. Sei que assumiu o Vice-presidente, Café Filho, que também não ficou até o fim do mandato. No Brasil sempre foi assim!!

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Nicanor de Freitas Filho