Nicanor de Freitas Filho
Ouvindo ontem a CBN, o bom programa “50 mais” – apesar de
ter 71, ainda assim gosto de ouvir, principalmente os convidados – que, no caso
de ontem, foi o Dr. Jerson Larks, do Centro para Doenças de Alzheimer do
Instituto de Psiquiatria da UFRJ, que muito se emocionou quando do Dr.
Alexandre Kalache fez uma homenagem ao pai dele falecido, segundo entendi, na
Polônia, mas que muito contribuiu socialmente, aqui no Brasil.
Dentre muitas coisas que ele ensinou, ficou confirmado
para mim, que o principal problema do Brasil, sem dúvida, é a EDUCAÇÃO – ou a
falta dela. Ainda que, possa nos parecer que hoje seja a corrupção, essa não
existiria se todos fossem educados! Uma das primeiras coisas que se aprende
numa boa escola é ÉTICA! (Não brigar com o coleguinha, não “pegar” as coisas
dos outros, não mentir, dividir os brinquedos, obedecer às regras, etc.) Ele
confirmou um dado, que eu já sabia, mas não tinha ideia de quanto, é a falta de
capacitação da maioria dos médicos, de fazer um diagnóstico correto do Alzheimer.
Ele disse que 80% dos portadores desta doença, não são diagnosticados
corretamente, por pura falta de capacitação dos médicos. Principalmente agora,
com a “importação” de muitos profissionais, que além de não terem a mínima
noção da cultura local, não estão também, capacitados a atender a população
mais pobre do Brasil, que muitas vezes nem sabe por que vai ao médico.
Simplesmente porque “não estou bem...” Mas, pelo que entendi, os próprios
médicos, formados no Brasil, não recebem a devida capacitação para enfrentar
nossa realidade! As Faculdades não os preparam, nem os Hospitais, onde fazem
residência.
Trabalhei na área Gráfico-Editorial por 28 anos, fui
Gerente do Depto. Comercial de uma tradicional editora brasileira. Vou omitir
nomes para evitar constrangimentos. Essa Editora, sempre atenta ao grande
mercado – compras governamentais – captou a necessidade que teria o mercado,
após a aprovação, pelo MEC, dos novos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN),
aprovados na gestão do Ministro Paulo Renato, de livros que atendessem o novo
aprendizado contextualizado e interdisciplinar, para o desenvolvimento das
habilidades e competências exigidas nas grades curriculares. Num ato corajoso e
correto, contratou duas professoras que, digamos assim, foram responsáveis por
grande parte da redação dos Parâmetros Curriculares Nacionais, no MEC, na
gestão de Paulo Renato, para coordenarem a produção dos livros, de acordo com
esses PCN, para todo o ensino médio. Essas duas professoras, se juntaram com
cerca de 50 professores e profissionais da área, para produzirem os livros. Sem
entrar muito em detalhes, foi criado um “volume”, que poderia ser composto de
várias formas pelo professor que o utilizaria, já que era impresso em
fascículos de 16 ou 32 páginas e poderiam ser “montados” numa pasta A-Z, da
forma que lhes aprouvessem.
Pois bem, pronto o material, saímos à rua para divulgação
do mesmo. Somente duas Escolas se interessaram em adotá-los, nenhuma delas
pública. Sabem por quê? Porque nenhum professor se sentia capacitado a usá-los,
pois não estavam capacitados a dar aulas, de acordo com os PCN, que por sinal,
já estavam em vigor, há pelo menos, cinco anos. Então partimos para
capacitá-los, nós mesmos, uma vez que o investimento já tinha sido muito
grande, então era melhor investir um pouco mais para atingir nossos objetivos.
Qual o que! Não tivemos apoio, nem das Escolas, nem do Governo. Não faltou
empenho do pessoal da Editora, principalmente das duas coordenadoras, em
trabalhar, na tentativa de capacitar – ensinar mesmo – os professores, para que
pudessem adotar os livros, mas os professores preferiam trabalhar com o
“feijão-com-arroz”, que já estavam acostumados e lhes permitia dar aulas, sem o
trabalho de prepará-las.
Eu fiquei totalmente decepcionado com as atitudes dos
Diretores, Orientadores Educacionais, Coordenadores e Professores, não só das
Escolas Públicas como também das particulares. Fui estudar e saber por que não
se interessavam por material tão bem elaborado e que ajudaria muito aos
próprios professores. Descobri então, que a maioria, não tinha preparação profissional
para o professorado, ou seja, tinha outras atividades, que não lhes permitia
dar total atenção ao ensino. Não preparavam aulas, simplesmente repetiam o que
todos faziam. Quando muito, trocavam algumas ideias entre si, e, tocavam as
aulas como dava. Não tinha ninguém para fiscalizar, e para os alunos, quanto
mais fácil melhor!
Nos estudos que fiz, na época, obviamente me levaram à
Finlândia, Japão e Coreia do Sul. Apesar do tamanho, o mais comparável ao
Brasil é o caso da Coreia do Sul, que em 1963, tinha dados educacionais e
econômicos similares aos do Brasil. Com um planejamento muito bem elaborado e
principalmente, muito bem executado, e sério, dando total prioridade, no
início, à capacitação dos professores e ao ensino fundamental (6 a 12 anos), até
início dos anos 80, quando foi incrementado o ensino médio e posteriormente o
superior. Eles aplicam cerca de 5% do PIB na Educação, mas o salário base de um
professor lá, é por volta de quatro mil dólares. Ou seja, o dinheiro é muito
bem aplicado e não tem corrupção! O Professor tem prestígio, mas também é muito
exigido. As escolas lá funcionam das 7 às 17 horas. E pelos dados da época,
Brasil e Coreia tinham na década de sessenta 35% de analfabetos e hoje o Brasil
ainda tem 13% e a Coreia zero. A renda per capta lá, hoje é de 35 mil dólares,
no Brasil anda por volta de 10 mil e em recessão. Isto em cinco décadas.
O que eu quis mostrar é que EDUCAÇÃO é tudo que
precisamos, pois ética, cidadania, desenvolvimento, riqueza e tudo mais, vêm
depois dela, ou seja, é consequência! E o começo de tudo é a capacitação
profissional!
Nota: Não estou criticando nenhum professor – tenho irmãos
e amigos professores – apenas informo o que constatei na época (2001/2002)
Minha crítica é dirigida aos governantes.