Nicanor
de Freitas Filho
Nasci
em 1944 e comecei a “entender” e gostar de futebol aí por volta de 1954/1955,
quando meu padrinho Tarcísio, com quem eu trabalhava, vibrou muito com o
Tricampeonato Estadual do Flamengo. Lembro-me também da reclamação que ele
sempre fazia, da não convocação do Índio, centroavante do Flamengo, para a Copa
de 1954. Portanto falar qualquer coisa antes de 1955 seria somente resultado de
pesquisas, ou de ouvir falar. Eu quero escrever do que vi e penso, sem
pesquisar.
Acredito
que o Brasil teve um futebol “semi-amador” do início do século 20 até depois da
Segunda Grande Guerra, pois disputou 3 Copas do Mundo sem “aparecer” em 1930,
1934 e 1938. A partir daí começou a trabalhar mais sério e os Clubes entenderam
o gosto dos brasileiros pelo esporte bretão e começaram a levar mais a sério,
principalmente da maneira que chamamos “profissional”. Tanto isto é verdade que
conseguiu trazer a Copa do Mundo de 1950 para o Brasil, logicamente com toda a
Europa em reconstrução e os demais continentes não tinham cacife para isso. Pelo
que sempre ouvi, péssima organização, mas foi como o Brasil era naquela época:
desorganizado! Resultado foi uma terrível tragédia, que era a maior do futebol
brasileiro, até um ano atrás. Mas serviu para mostrar que a seriedade e
competência são necessárias para se obter bons resultados e demora um pouco
para se perder o sentimento de
“vira-latas”, como estamos agora.
A
partir daí o Brasil iniciou um preparo mais sério da nossa Seleção para o
Campeonato Mundial de 1958, preparando os jogadores com 60 dias para treinar,
quando, inclusive, ficaram em Araxá, por um bom tempo treinando, com todo
respaldo que é necessário. Do Campeonato Mundial de 1958 eu já me lembro muito
bem. Foi a glória! Ganhar o “Caneco”, como era chamada a Taça Jules Rimet. Ídolos,
Heróis, música e muita festa. Gilmar, Di Sordi, Beline, Nilton Santos, Zito e
Orlando, Garrincha, Didi, Vavá, Pelé e Zagalo. Na final jogou Djalma Santos no
lugar de Di Sordi. Técnico: Feola. Isto sem contar com Castilho, Mauro Ramos,
Zózimo, Pepe, Dida, Moacir, Oreco, Dino Sani, Mazola e Joel. O Chefe da
Delegação foi o Dr. Paulo Machado de Carvalho, com a ajuda de pelo menos três
jornalistas: Paulo Planet Buarque, Flávio Iazzetti e Ary Silva, que juntos,
pela primeira vez fizeram um planejamento e seguiram à risca o que se tinha
determinado, incluindo um psicólogo na Delegação. Aí começava um período de
resultados, pelo sério trabalho planejado e desenvolvido, por pessoas sérias e
competentes! Durou cerca de 12 ou 14 anos, tempo suficiente para conquistarmos
três Campeonatos Mundiais. E até hoje fico com a dúvida se a melhor Seleção foi
a de 1958 ou a de 1970. Mas acredito piamente, que o título mais importante foi
o de 1958, pois foi o primeiro e nos tirou o sentimento de “vira-latas” que tinha
ficado em 1950.
Ocorre
que para a copa 1962, no Chile, descobriram que com violência, os nossos
adversários venceriam nossa “ginga” e conseguiram tirar o Pelé da Copa dessa
Copa. Ganhamos a Copa, mas com pequena ajuda de um árbitro e a entrada
providencial de Amarildo. Em 1966 na Inglaterra foi muito pior. Abusaram da
violência! Novamente o Pelé foi colocado fora do Campeonato literalmente
“quebrado”. Lá não teve jeito, perdemos! Foi tamanha a violência que para o
Mundial de 1970 foram criados os cartões amarelo e vermelho, para tentar
“conter” um pouco a tremenda brutalidade e desonestidade no futebol. Foi bem
mais leal a Copa de 1970, embora ainda houvesse alguma violência. Também foi
criada a “Regra 3”, que permitia a substituição de jogadores. (Dizem que a International
Board criou esta regra, porque achou muito injusta a saída de Pelé, machucado,
no jogo contra Portugal, sem poder ser substituído).
Nesse
ano contamos com Felix, Carlos Alberto, Brito, Piazza e Everaldo; Clodoaldo e
Gerson; Jairzinho, Pelé, Tostão e Rivelino.
E ainda tinha o Ado e o Leão, Zé Maria, Baldochi, Fontana, Joel, Marco
Antônio, Dadá Maravilha, Paulo Cesar Cajú, Roberto e Edu. Deu para perceber que
tinha cinco “Camisas 10” no time tutular? Jairzinho era 10 no Botafogo, Gerson
era 10 no São Paulo, Tostão era 10 no Cruzeiro, Pelé era 10 no Santos e
Rivelino era 10 no Corinthians! O Técnico era o Zagalo, mas chefiado pelo
Major-brigadeiro Jeronymo Bastos. Foi a primeira Copa do Mundo transmitido ao
vivo, pela TV, para o Brasil. A maioria dos jogos era por volta de 14 ou 15
horas. O Brasil parava para ver o show de bola! Fomos Tri!
Aí
chegou 1974. Pelé, em 1972 informou que não jogaria mais pela Seleção, fez sua
despedida e nos deixou! Foi uma pena, mas entendo que ele agiu certo. Já tinha
disputado 4 Copas do Mundo – e ganho 3! Era melhor parar na fama. O Zagalo, que
continuava sendo o Técnico, disse também que era correta a atitude de Pelé e
que tinha o time na mão e muito bem treinado. O susto veio quando vimos a Holanda jogar. Não
era o futebol que estávamos acostumados a jogar nem a ver jogar. O Zagalo foi
pego de surpresa e não tinha muito o que fazer. Para se ter uma ideia, nossos
dois primeiros jogos foram 0x0 e só fomos ganhar do Zaire. Quando chegamos na
Holanda e na Polônia, tomamos um “chocolate”. Era o tal do “Carrossel” ou “Laranja
Mecânica”. Não sabíamos como marcar aqueles “moleques” doidos, que rodavam o
campo todo. Não tinha como marcá-los! Foi muito triste!
Levamos
20 anos para arrumar as coisas, pois continuamos a jogar o jogo “bonito” mas
sem resultados. Tínhamos craques, mas perdemos as Copas de 1978, 1982, 1986,
1990 com grandes jogadores, mas nossos técnicos insistiam em jogar bonito.
Ganhar era um mero detalhe. Em 1994 finalmente voltamos a ganhar uma Copa,
muito mais pelo baixo nível dos adversários que por nossa performance e tivemos
a sorte que apareceram Romário, Bebeto,
além da destreza de Taffarel.
Em
1998, na França, ocorreu algo de muito estranho, que ninguém explicou até hoje,
o que de fato aconteceu. Perdemos muito feio para a França, na final, com todo
o “imbróglio” do Ronaldo Fenômeno! Mas em 2002 ele mesmo deu a volta por cima.
Depois de ficar quase dois anos sem jogar por cirurgias no joelho, era tido
como “acabado” para o futebol competitivo. Pois ele, ao lado de Ronaldinho Gaúcho
e Rivaldo, jogou todos os jogos fez 8 gols, sendo os dois da final contra a
Alemanha. Nessa Copa, o que ocorreu foi que o Felipão, que era o Técnico,
formou um defesa bastante sólida, com 3 zagueiros, que dava liberdade para a
criatividade e destreza dos 3 R: Ronaldo, Ronaldinho e Rivaldo. O Kleberson e o
Gilberto Silva, eram dois volantes marcadores e cinco na defesa, sendo que Cafú
e Roberto Carlos tinham também alguma liberdade para descer ao ataque. Ganhamos
essa Copa pela genialidade de nossos jogadores, além dos já citados, o goleiro
Marcos, Lúcio, Roque Júnior e Edmilson.
Não
podemos esquecer que no primeiro jogo, o árbitro coreano, nos ajudou muito,
marcando um pênalti – cuja falta foi fora da área – e expulsando o Ozalan, que
chutou, fora do campo, uma bola forte nas pernas do Rivaldo, que levou as mãos
ao rosto, caiu, encenou e o generoso árbitro acreditou, sem ver, que tinha
acertado no rosto mesmo! O título foi merecido, pois o Brasil jogou muito,
principalmente contra a forte Alemanha!
Aí
acabou o futebol da Seleção Brasileira e quiçá, do Brasil, apesar de nos
Torneios interclubes da Fifa, termos conseguido 3 títulos, com São Paulo
(2005), Internacional (2006)e Corinthians (2012). Todos os três, mais por sorte
que por competência. A morte começou em 2006 – derrota para França, lembram do
Robinho e Cicinho irem beijar o Zidane, após o jogo? – e foi finalmente
decretada no dia 08/07/2014, quando a Seleção Brasileira de Futebol perdeu de 7
a 1 para a Alemanha, numa semifinal, em pleno Mineirão!
Não
quisemos aceitar, por puro orgulho besta, a oferta que Pepe Guardiola nos fez,
no sentido de vir dirigir a Seleção Brasileira, com a vontade que ele estava de
mostrar que fez um belo trabalho no Barcelona, desde que aprendeu o “antigo
carrossel” – agora chamado de “tic-tac” – com o Cruyff, quando este esteve no
Barcelona, logo depois de mostrar ao mundo – em especial ao Brasil – como se
joga o futebol moderno.
Não
sei quanto tempo vai levar para nos recuperar, mas vai ser difícil, pois pelos
acontecimentos que vêm ocorrendo, desde o final da Copa de 2002, nos leva a
crer que, dificilmente teremos uma rápida recuperação. Acabamos de ver a prisão
do Ex-Presidente da CBF e a Copa América no Chile. Que vergonha!
Baseado
nestes fatos, e ainda, nas pessoas que estão dirigindo o futebol no Brasil, e refiro-me especialmente a Del Nero, Gilmar
Rinaldi, Dunga e Cia. (vou me preservar e não tratar do caso Neymar, que não é
dirigente), vou ousar fazer uma previsão aqui: Chile, Argentina, Colômbia e Uruguai, certamente ficarão
na frente do Brasil nas eliminatórias sul americanas. Prevejo ainda que Perú ou
Paraguai não deixarão o Brasil disputar nem a repescagem. Sim senhor, o que
estou prevendo é que o Brasil deixará de participar de uma Copa do Mundo de
Futebol, pela primeira vez na história. Isto poderá ocorrer se providências
sérias não forem tomadas! (A menos que os Carlos Amarilla da vida resolvam nos “prestigiar”...).