quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Causo 93 Objeto Não Voador Identificado


                                                               José Gamaliel Anchieta Ramos
            Houve um tempo, pouco antes de sua morte, que ele se acomodava na varanda do apartamento para me contar causos. Com total expressividade criava modos e trejeitos próprios para imitar o “Padre Italiano da Ventania”, “Mané Frangueiro”, “Donana”, “João Gravata”, “Tié do Pio”, “Bunda de Couro”, “Dona Bem”, “Miguê da Romana” e tantos outros tipos inéditos de seus contos.
Quanta lembrança de meu pai!
            O seu forte eram os casos populares ou as invencionices das pequenas cidades do interior onde viveu. Menos o causo de nossa despedida, este que ouviu um humorista narrar na televisão.
            Varginha, antes Princesa do Sul de Minas, passou a ser conhecida como a “Terra do ET”, a partir do elevado número de relatos e testemunhos de moradores do município sobre uma possível série de aparições de OVNIS – Objetos Voadores Não Identificados.
            No início de 1996, jornais, revistas e tevês informavam que a cidade estava sendo invadida por seres extraterrenos. Sensacionais notícias que receberam enorme destaque.
            Pensando bem, estas ocorrências enigmáticas deixaram vestígios muito convincentes. Tudo levava a crer que depois disso os limites de Minas Gerais, já considerados extensos, tinham sido ampliados rumo ao infinito.
Nesta ocasião, foi divulgada a desmontagem da fraude. De nada adiantou, porque permaneceu a marcante impressão do impacto inicial causado pela notícia.
            Em função dos misteriosos fatos um momento de forte tensão tomou posse do meio urbano e rural em que viviam. Durante a semana parece que tudo o mais não acontecia, todos insistiam em falar tão somente dos visitantes de fora da Terra.
            Mas não é por tais rumores que Compadre José Vieira ia deixar de reunir em sua fazenda os amigos para o tradicional jogo de truco. Ora, ora, nem pensar em uma coisa absurda como essa!
            Não tinham o menor medo de um perigo imaginário. Ao contrário, faziam graça daquilo. Extraterrestre para cá, extraterrestre para lá, eles falavam nisso a toda hora, nas diversas rodadas, até quando iam insultar o adversário, naquele tipo de provocação muito natural do jogo.
            Valter Cipriano, rico fazendeiro da região, naquele sábado estava entre os participantes da jogatina. Em torno de cinco horas ele passou jogando, meia-noite e tanto se despede de todos, entra na D20 e vai embora.
            Bem no meio do caminho de casa aconteceu algo que não esperava, mesmo sendo bastante nova, a caminhonete parou. Várias vezes acionou a chave da partida, mas as tentativas foram em vão, não ligava. De fazenda conhecia tudo, como ele gostaria de entender também do funcionamento desse motor, mas não sabia nada. Dormir ali desacomodado seria a pior idéia. Por fim, deixou o veículo na estrada, abandonado. Em seguida, marchou a pé em direção a sua fazenda.
            Seu Valter, muito acostumado a andar unicamente de carro, não estava nem um pouco preparado para curtos percursos, quanto mais para longas caminhadas. Sem outra maneira de tornar para onde viera, ele mesmo, teria a obrigação de arrastar cento e tantos quilos, quase uma légua no escuro, mesmo sendo um extraordinário sacrifício.
            Assim que entrou na estrada de terra, lembrou-se da matinha logo mais adiante, famoso palco de muitas histórias de ações das sombras. O poderoso dono das terras em que pisava, de muitas outras e de incontáveis cabeças de gado, jamais sentiu pavor, nem de longe, muito menos de perto.
            Fazia uma noite sem o menor sinal de claridade. As nuvens encobriam todas as estrelas, até a lua estava ausente do céu sul mineiro. Assim, nada via, talvez fosse incapaz de diferençar alguma forma na escuridão total. As trevas em que tinha o infortúnio de vagar estavam rodeadas por um silêncio profundo.
            Embora estivesse todo aterrorizado e bastante entregue ao cansaço, o homenzarrão seguia em frente. Aquela alma sertaneja já estava com o corpo arrepiado da cabeça aos pés. Os nervos se encontravam muito abalados, já não eram mais os nervos do frio imperador, do dono de muitos bens, tão senhor de si. Bem ali, a estreita estrada dividiria ao meio o capão de mato. Naquela altura caminhava com o passo amarrado, como quem não queria ir adiante. Afinal, nunca havia enfrentado uma situação aflitiva igual àquela.
            Estava nesse clima de horror quando chegou à matinha. Para aumentar ainda mais o pânico, bem no meio do escuro completo, surgiu de repente certo clarão de luz, que aumentava e diminuía, que... De imediato, o boiadeiro a si perguntou:
─ Pai do céu, que luzinha estranha será esta? Meu Deus será o ET?
            Nessa hora, como tinha sempre uma grande coragem, firma a vista na direção da maldita luz que continuava a aumentar e diminuir, de modo insistente. Após caminhar rumo ao foco luminoso, já de arma em punho resolveu dizer uma frase. Com os olhos arregalados, aproximou-se mais um pouco e repetiu a mesma sentença. Não houve resposta.
            O destemido senhor chegou ainda mais perto, momento em que percebeu dois braços enormes esticados. E no limite de sua ansiedade, pela última vez, aos berros, naquele momento, disse:
─ Aqui é o Valter Cipriano, fazendeiro da região, pra o que dé e vié, comunicano, comunicano!
            Então, bem no meio do foco de luz, saiu em um apavorado tom de voz, a seguinte comunicação:
─ Aqui é o Dito Baiano, capatais do lugá, às suas orde, pitano e cagano!

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Causo 92 Um Natal quase diferente do real


Regina Célia Mastine

      Em dezembro de 1956, eu estava com apenas seis anos, quando minha querida tia Nenzinha chegou em nossa casa em Itajubá, no sul de Minas; juntamente com seu marido o Tio  Osvaldo, vieram de charrete para passar o dia conosco e fazer suas compras, pois em sua cidade, São José do Alegre, na ocasião, não havia tantos estabelecimentos comerciais.
      Minha mãe ficava feliz em receber sua irmã tão querida e caprichava mais ainda na decoração dos pratos apetitosos que fazia para nossa mesa de refeições.
      Durante o almoço a tia Nenzinha convidou-me para passar as férias com eles, e era a primeira vez que iria viajar sem estar acompanhada de minhas irmãs. Eu fiquei empolgada e como gostava de andar de charrete, de imediato fiquei pedindo por várias vezes para que mamãe permitisse. Consegui a autorização de tanto insistir para ir... Feliz fui fazer minha malinha juntamente com a Joaquina, nossa aia, que sempre estava alegre e prestativa e nos ajudava em todos os serviços da casa .
        Mas ao despedir de minhas irmãs, senti que a Zélia queria ir também. Ela estava com dez anos nessa ocasião, mas não havia lugar no único banco que a charrete possuía e ela ficou com os olhos lacrimejantes... Fui... 
        Sendo eu a caçula de minha casa a Tia Nenzinha me agradava mais, pois ela não tinha filhos, me ensinou a fazer crochê, tricô, renda turca e bordar. Encontrei com meus primos que moravam ao lado, filhos de um irmão da mamãe, brincamos bastante pois éramos quase da mesma faixa de idade. Uma das brincadeiras que mais marcou foi em cima de uma enorme mangueira, onde eu, Tereza Maria e Marcinha, com nossas mobilhinhas, brincávamos de casinha, nos galhos grossos, os quais imaginávamos o andar do nosso prédio que era a árvore. Eu ficava no mais alto galho me sentindo como se estivesse naqueles edifícios que não existiam em Itajubá e nem em São José do Alegre. Pela manhã íamos ao curral com o primo Conrado, e cada uma levava sua  canequinha branca de ágata, com uma pitada de sal dentro, para tomar com o leite tirado direto da vaca à caneca; que espuminhas deliciosas formavam com o jato do leite, coisa difícil de ver atualmente devido as fabulosas máquinas que substituíram as mãos habilidosas de quem sabe ordenhar.
      Nesta ocasião começou a chover muito naquela região e o rio Sapucaí começou a subir, subir, transbordou e levou a única ponte existente. Ficamos ilhados! Estava aproximando o dia de meu aniversário e o Natal... A chuva não parava, não tendo como voltar antes do dia 22 de dezembro para Itajubá, eu chorava muito em ter que passar pela primeira vez, meu aniversário longe de minha mãe, minhas irmãs e amiguinhas; chorava mais ainda quando pensava no Natal diferente que teria que passar...
      Para amenizar a situação a Tia Nenzinha estava programando a minha festa, e euforicamente preparava os docinhos, os salgadinhos e o bolo para o meu aniversário. Ela estava feliz, pois era a primeira vez que fazia festa de aniversário de criança naquela casa enorme... Chegou o dia 22 e ela fez tanta coisa gostosa para me proporcionar alegria. Convidou tanta gente estranha que eu nem conhecia, muitos adultos, seus amigos estavam compartilhando da alegria da tia Nenzinha, em fazer minha festa de aniversário; até o Páraco da Igreja São José. Como eu não conseguia parar de chorar, o Padre Gervásio ficou comovido com o meu pranto e na hora do parabéns, as lágrimas eram tantas, eu soluçando, não sabia disfarçar para conter as lágrimas ao cortar aquele bolo alto, cheio de camadas quadriculadas feito um tabuleiro de damas, com chocolate e massa branca e preta. Vi várias pessoas chorando também... Que tristeza não poder voltar para Itajubá por que a ponte caiu!
       Mais lágrimas caiam quando comentavam que eu teria que passar o Natal lá. Felizmente o Padre Gervásio teve uma brilhante idéia, eu o escutei falando para o tio Osvaldo que sabia uma solução, para resolver a tristeza da Regininha: “- Se você doar uma leitoa para a ceia de Natal aos Padres de Itajubá...” Ele telefonaria para o Padre Mário (de Itajubá) vir até a margem direita do rio, de Jeep, buscar a leitoa para a ceia deles e ele me levaria até a margem esquerda em seu Jeep e faríamos a travessia numa canoa. O plano dele foi aprovado. Fiquei feliz, parei de chorar e curti a festa sorrindo.
     Então, na manhã seguinte o Tio Osvaldo matou duas leitoas, limpou-as e colocou-as num saco. Chamou o Padre, eu e as leitoas fomos no Jeep, aventurando pela estrada barrenta e escorregadia até a margem esquerda, onde ele deixou seu Jeep em lugar mais alto para a enchente não levá-lo.
      Quanta água! O rio Sapucaí ficou muito largo e cheio! Que enchente e que emoção atravessar de canoa com as leitoas! Uma situação inusitada, amei a aventura, a canoa balançava e eu estava curtindo feliz, nem aí com a chuva aumentando os movimentos da água no rio. Estava feliz por poder voltar à Itajubá e ficar livre do natal diferente que iria ter que passar.
     Ao chegar em nossa casa no dia 23 de dezembro, poder abraçar a mamãe já com os meus sete anos completados na véspera e com uma das leitoas para ela, de presente da tia Nenzinha, chorava de novo, mas agora de alegria e emoção por podermos estar juntas e colocar meu sapatinho na janela, ainda acreditando no Papai Noel, que lá colocava nossos presentes!

sábado, 18 de janeiro de 2014

Causo 91 Um Filme Real

  
Geraldo Vanderlei Falcucci
 
             Comecei a trabalhar antes de completar dez anos de idade.  Papai adquiriu uma doença chamada CIÁTICA, que nada mais é que um reumatismo no nervo Ciático. Com certeza consequência das constantes e inúmeras pescarias, que ele tanto gostava de fazer. Não podendo trabalhar e com oito filhos menores para sustentar nossa situação ficou realmente difícil. Depois de pesquisar e descobrir um médico especialista na doença deixou-nos garotos com minha mãe em Muzambinho e lá foi ele para S. Paulo em busca de recursos para aliviar seus males. Papai só levou consigo o dinheiro da passagem. Trabalhou na Doceira Paulista, que vim a conhecer anos mais tarde quando fui morar naquela capital e que fica ali no Largo Santa Cecília. Depois de três meses juntou dinheiro suficiente para pagar o médico. Fez o tratamento, ficou curado e voltou pra casa. Regressando a Muzambinho, começamos tudo do zero. Eu tinha doze anos e uma escadinha de irmãos atrás de mim. Meus avôs haviam se mudado para São Paulo e morávamos na casa que era de meu avô, na Rua Barão do Rio Branco perto do pontilhão da estrada de ferro. Na edícula da horta existia um forno grande. Vovô era padeiro. Foi dessa maneira que papai instalou a confeitaria. O serviço não era pesado, mas durava o dia inteiro, às vezes até à noite. O local muito quente e abafado. Eu e meus irmãos trabalhávamos ajudando papai. Fabricávamos roscas, bolachas, broas, pudins, uma variedade grande de guloseimas. Também, salgadinhos para festas de aniversário, casamento e outras comemorações. Papai havia aprendido muito no período em que trabalhou na Doceira Paulista. Depois de tudo assado, por volta das 15, 16 horas, saíamos entregando as quitandas para os diversos comerciantes que adquiriam nossos produtos. Era cansativo carregar nas costas uma cesta cheia de quitandas. Mesmo assim era bom, pois tínhamos muita fartura de doces e salgados para comer. Depois que assávamos as quitandas usávamos o calor do forno para torrar amendoim que vendíamos todos os dias na porta do cinema. No Brasil daquela época a televisão engatinhava e só muito mais tarde chegaria a Muzambinho. Só existia em algumas capitais e com poucos aparelhos e programação incipiente. Cinema era a diversão do momento, um lugar chic frequentado por ricos e pobres. As sessões das vinte horas diariamente, sempre tinham muitos espectadores. Mesmo as pessoas que não iam assistir ao filme davam uma voltinha até à porta do cinema para ver os cartazes das atrações futuras, encontrar o namorado ou simplesmente passear. Uma vez por semana, após a venda dos amendoins, eu e meus irmãos também íamos ao cinema. Vendíamos todos os dias uma cesta cheia de amendoim. Nos finais de semana, eram duas e até mais, nas duas sessões de cinema. A confeitaria dava pouco lucro, apenas o suficiente para nos sustentar. Éramos ao todo dez pessoas na família. Foi muito gratificante quando começamos a ganhar aquele dinheirinho extra com a venda dos amendoins. Coisa pouca, mas para quem tinha menos ainda representava muito. No entanto, logo surgiram muitos outros vendedores. Mas os concorrentes não tinham forno e muito menos know-how. Torravam o amendoim na panela deixando o produto desigual com grãos queimados e outros crus. Claro que o produto era muito inferior ao nosso que era torrado por igual, levado ao forno quase na hora de ser colocado à venda. Chegava ao consumidor ainda quentinho. Portanto, era melhor. Melhor não, muito melhor e vendíamos muito mais. Logo, logo, os concorrentes desistiram, pois dominávamos o comércio de amendoim. Também vendíamos na porta do Circo ou nos Parques de Diversões, quando chegavam à cidade. Na porta do cinema enquanto um dos meus irmãos segurava a cesta, eu trocava Gibi, Pato Donald e muitas outras revistas infantis da época. Desde criança gostava muito de ler. Mais tarde eu abandonaria os Gibis, mas não o gosto pela leitura, o que me foi muito útil. O dono do cinema, como havia caído consideravelmente sua venda de balas e chocolates na bombonieri que mantinha no saguão de entrada, começou a implicar conosco. As cascas de amendoim e os saquinhos de embalagem sujavam muito o cinema. Ele tinha suas razões, claro. Ficávamos com a cesta em cima do passeio em frente ao cine São José. O dono do cinema não queria permitir. Invariavelmente pegava-nos pelo braço e colocava-nos fora do passeio na rua junto ao meio fio, como se fosse o dono do local que na verdade era e é público. Eu sentia muita vergonha e ficava humilhado nessas ocasiões. Fui ficando com raiva daquele “alemão”. Pensava numa maneira de me vingar dele. Com o lucro da venda de amendoim compramos algumas roupas para toda a família e uma capa de chuva para cada um dos três irmãos. A idéia de me vingar de “Alemão” não me saía da cabeça. Num dia de céu cinzento e muita chuva, repentinamente surgiu uma idéia que considerei brilhante e arrojada. Veio tudo tão de repente que até eu me surpreendi com o que imaginei. Armei uma arapuca na horta de casa e capturei uma dúzia de passarinhos e os coloquei em uma caixa de sapato, toda furadinha. Tudo escondido de meus pais. Estava sendo exibido um filme de Tarzan com Johnny Weissmuller e, nessas ocasiões, o cinema ficava lotado. Os garotos (também os adultos) gostavam demais do homem do cipó, que morava em cima de uma árvore e era capaz de afugentar o leão com seu urro selvagem. Depois de vendermos o amendoim e guardarmos as cestas no bar de um amigo, entramos no cinema. Eu levava escondida debaixo da capa e do braço, a caixa com os pássaros. Como já disse era um dia chuvoso, portanto usávamos capa. Sentei-me na parte de cima do cinema, no local denominado vulgarmente de “poleiro”, enquanto meus irmãos tomaram assento em baixo, longe de mim. Quando o filme ia pela metade, numa cena bem clara, soltei os pássaros que voaram diretamente para a tela. Foi uma confusão dos infernos. O povo ria, gritava, assobiava, ficaram em pé e batiam nos assentos das cadeiras. Foi preciso acender as luzes e interromper a sessão temporariamente, tal a balbúrdia que se estabeleceu. Claro, eu me desfizera da caixa e rapidamente trocara de lugar descendo para o andar térreo. Tirei a capa e a dobrei, colocando-a debaixo do braço, para despistar. Mesmo assim, dias depois, o porteiro Marcelo Menegon, acabou descobrindo que fora eu o autor. Fui suspenso de frequentar as sessões por trinta dias. Naquela época existia esse tipo de punição aplicada pelo dono ou gerente. A Lei era feita e aplicada por eles. Tive que assistir aos filmes pela fresta da porta de saída de emergência, dentro do Bar Majestic. Se alguém se postava na frente eu enchia a boca com fumaça de cigarro, embora não fosse fumante, e soprava pela fresta fazendo o intruso arredar. “Alemão” continuou a me aborrecer. Quando finalmente pude voltar a frequentar as sessões, levei um pouco de pó-de-mico misturado com pimenta do reino moída bem fino, rapé e esparramei pela sala de exibição. Não demorou muito, as pessoas começaram a se coçar e espirrar ao mesmo tempo. Um Deus nos acuda. Minha mente continuava trabalhando, arquitetando meios de trazer mais dificuldades para o “Alemão”, chamado Bengtson, que, na verdade era descendente de austríacos. Um dia, “Alemão” acenou-me com a bandeira branca e chamou-me em particular, pediu trégua, pediu paz. Eu o havia vencido. Fiquei feliz, radiante! Eu vencera aquele brutamonte insensível que tanto havia me magoado. Muitas tinham sido as ocasiões em que me pegara pelo braço e falando alto, me destratando na presença de todos, havia me colocado para fora do passeio. Eu que era ainda um garoto impúbere que lutava na vida em busca de uns trocadinhos. Nessas ocasiões, eu morria de vergonha. Sentia ódio de “Alemão”, mas seu prejuízo estava sendo maior que o meu. Puxa! Eu havia vencido uma das minhas grandes batalhas. Aceitei o pedido de trégua, de paz, desde que pudesse vender meus amendoins sem ser molestado. As sessões cinematográficas a partir daquele “tratado de paz” tornaram-se mais tranquilas. Muitos anos depois, já adulto, tornamo-nos amigos. Hugo Bengtson e eu rememorávamos aqueles fatos, quando à noite, depois do cinema ele ia para o reservado do Bar Majestic onde tomava uma cervejinha com amigos. Nos períodos de férias escolares eu trabalhava de garçom naquele bar. Recentemente estive em Muzambinho e visitei o cemitério. Deparei não só com o túmulo de “alemão”, mas também com o de Marcelo Menegon. Rezei a ambos pedindo perdão por aquelas traquinagens que um dia fizera. Eu já os havia perdoado há muitos e muitos anos. Naquele momento, em segundos, revivi aqueles acontecimentos todos. Um misto de saudade, tristeza, nostalgia tomou conta dos meus sentidos. É triste saber que um dia também tenho que partir. Mais triste fiquei ao rememorar a antiga frase que por muitos anos ficou pintada na entrada do cemitério:
                     "EU FUI O QUE TU ÉS, TU SERÁS O QUE EU SOU! "
  
                                                                             (Do Livro Estilingue da Saudade)

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Causo 90 Deus Sempre ajuda...

(parte 2)
... a nós, compete acreditar!

Nicanor de Freitas Filho
Estava começando a Copa do Mundo de 1974. Sofri um violento acidente, no banheiro, dentro de casa, conforme já contei na primeira parte deste causo, que me deixou o tórax enfaixado e sem movimento no braço direito.
Como naquele tempo ainda participavam somente 16 seleções, já começava a Copa, como oitavas de final. Assim os jogos eram sempre aos sábados e domingos e quartas e quintas-feiras. Desta forma resolvi marcar, para trocar as faixas, sempre às quartas-feiras, porque no dia da troca eu não ia trabalhar e assim podia assistir aos jogos da Copa. Embora não empolgasse muito a retranca brasileira, tínhamos bons jogadores, como Leão, Nelinho (o maior batedor de faltas que conheci), Luis Pereira, Piazza, Rivelino, Paulo Cesar, Jairzinho e muitos outros bons jogadores. E sempre se tinha a esperança do tetra.
            Fiquei durante 60 dias trocando semanalmente as faixas. Nesse período, foi uma dificuldade, não no trabalho, pois minhas funções me permitiam apenas participar de reuniões e tínhamos boas secretárias, e um colega, também economista, com o qual tinha uma sintonia de trabalho muito boa, mas para fazer as coisas rotineiras sem a mão direita. Por exemplo, minha mulher tinha que assinar um cheque que eu sacava e carregava tudo em dinheiro vivo, pois não tinha como assinar cheques. Naquele tempo não se usavam os cartões de crédito. Sem poder dirigir, geralmente eu ia trabalhar de taxi.
            Nessa época tinha um colega que namorava a cunhada de um dos diretores da Financeira que eu trabalhava, que morava em Pinheiros, se não me engano na Rua Padre Carvalho, bem atrás da Av. Pedroso de Morais, ou seja, pro lado da minha casa, que ficava na Rua Alves Guimarães. Então, algumas vezes, quando ele ia namorar e eu de volta para casa, rachávamos o taxi, isto é, cada um pagava metade da corrida. Como eu parava primeiro, ele pagava a corrida e no dia seguinte me dizia quanto foi e eu lhe reembolsava a metade do valor.
            Era moda, e muito comum, os homens usarem uma “capanguinha” com uma alça pequena, para carregar dinheiro, documentos, isqueiro, cigarro e outros objetos. Era assim, parecida com uma nécessaire, mas geralmente de couro e tinha algumas bonitas. Eu usava uma de couro marrom, não muito grande, mas “quebrava o galho”, pois era a única coisa que conseguia carregar com a mão esquerda. Nesse dia, que vou relatar, eu tinha comprado um par de sapatos e então estava com minha capanguinha e uma caixa de sapatos. Convidei meu colega para rachar o taxi, e fomos, por volta das 18:30 h. Aquele rush danado! Fomos conversando sobre futebol, sobre a Copa do Mundo até minha casa. O taxi parou bem na porta do meu prédio, despedi-me do amigo, peguei a caixa de sapatos e desci do taxi. Assim que entrei no saguão, notei que faltava a capanguinha, onde estava a chave de casa. Imediatamente, perguntei pelo zelador, que era um bom motorista e poderia me ajudar, dirigindo o meu carro. O porteiro me informou que ele tinha saído. Joguei então a caixa de sapatos sobre a mesa do porteiro, disse para ele guardar para mim. Saí para rua, dei de cara com uma vizinha chegando de taxi, que tomei imediatamente, e disse ao motorista para descer a Rua Cardeal Arcoverde até à Av. Pedroso de Morais, que deveria ser o caminho que meu amigo fazia. Aí fui explicar a ele o que tinha acontecido e de que forma poderia me ajudar, para encontrarmos o taxi, onde havia esquecido minha capanguinha. Sabia que o taxi era um Opala marrom, embora não soubesse a placa. Não havia ainda padronização de cores de taxi, como hoje. Mas Opala marrom não era muito comum. Descemos a Rua Cardeal Arcoverde e eu de olho nos carros. Entramos à direita na Av. Pedroso e o trânsito estava intenso. O motorista me dizia: “-Moço, não tem como encontrarmos um taxi, com tantos carros passando.” Eu insistia para ele ir em direção a Rua Padre Carvalho, quando, de repente, vi, no sentido contrário um taxi marrom. Desci no meio do trânsito mesmo e tentei correr atrás. Mas com todo o movimento não foi possível. Então fiz sinal para o motorista do meu taxi fazer o balão para voltarmos. Ele titubeou e então levantei o braço esquerdo e parei o trânsito para ele fazer a conversão. Algumas buzinadas e alguns xingamentos, entrei no taxi e disse para ele seguir o marronzinho. Ele tentava ultrapassar para aproximarmos, mas ninguém ajudava. Estávamos a uns 10 carros de distância do marronzinho, quando ele ficou parado no semáforo da esquina da rua Teodoro Sampaio. Nós estávamos parados um pouco pra frente da esquina com a Rua Cardeal Arcoverde, isto é, menos de um quarteirão atrás. Eu disse para o motorista que ia descer e correr até lá, se por acaso eu não conseguisse, ele deveria me pegar lá na frente. Na hora que eu estava chegando, o semáforo abriu – o marronzinho era o segundo carro – e ele chegou a movimentar, mas eu consegui bater com a mão esquerda no porta-malas, o que fez um tremendo barulho e ele parou para ver o que tinha acontecido. Imagino que ele pensou que alguém lhe tivesse abalroado por traz. No que ele parou, corri e abri a porta traseira da esquerda, enfiei a mão e peguei minha capanguinha que lá estava e disse para ele: “-Pode ir que já peguei minha capanguinha.” Acho que ele não entendeu nada, mas como os motoristas que estavam atrás, começaram a buzinar, ele se mandou e eu fiquei esperando pelo meu taxi, com minha capanguinha na mão.  Quando o motorista parou para eu entrar novamente no taxi, ele não acreditava! “-Mas como o senhor sabia que era esse taxi que o senhor tinha tomado?” Eu, já sentado e mais calmo, porque dentro da capanguinha tinha uma bolada de dinheiro, respondi para ele: “-Foi Deus quem me informou...”

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Causo 89 Deus sempre ajuda...

... e protege os inocentes!

            Nicanor de Freitas Filho
            Minha filha completaria 2 anos em agosto daquele ano de 1974 e nós estávamos procurando um apartamento maior com alguma estrutura para ela. Morávamos na Rua Alves Guimarães, quase na esquina da Galeno de Almeida.
            Uma noite, não me lembro a data exata, após uma difícil e longa negociação para me desfazer da minha parte num sítio, que tinha em sociedade, para efetivar a compra do novo imóvel, cheguei em casa bem tarde, por volta de uma hora da manhã e fui tomar banho. Depois de entrar no Box, que ficava no lado oposto da porta, resolvi pegar alguma coisa na pia, que ficava junto à porta. Com os pés molhados, no meio do caminho escorreguei e caí com o braço direito dentro do vaso sanitário, onde ficou preso e o corpo acabou de cair no chão. Eu, imediatamente tentei me levantar, mas o úmero se deslocou para baixo, junto às costelas e o braço ficou “fincado” na vertical. Eu o segurei com a mão esquerda e sentei-me no vaso, apoiando-o na pia. Chamei a minha esposa, que acordada, assim com um grito, entrou no banheiro, meio que assustada, meio sem entender e quando viu o “estrago” teve calma suficiente para me fazer duas ou três perguntas. Está bem? Agüenta? Dói muito?
            Nota importante: naquela época não tínhamos telefone ainda, apesar de ter comprado pelo plano de expansão, e pior ainda, minha esposa não dirigia, apesar de ter CNH.
            Ela desceu até à portaria para saber, quem tinha telefone que ela precisava ligar para chamar uma ambulância. Mas o porteiro dizia que àquela hora não podia chamar ninguém. Minha esposa, desesperada, argumentando que era uma emergência, mas o porteiro não queria nem saber. Nisso entrou um vizinho, nissei, que viu o desespero dela e se dispôs a ajudar. Ela ainda quis pegar a chave do nosso carro, mas o gentil nissei disse que era melhor ir com o carro dele, que já estava aquecido. (naquele tempo tinha que aquecer o motor antes de sair). Ela pediu para ele ir para uma clínica da Av. Angélica, pois lá ficavam as melhores clínicas ortopédicas de São Paulo. Lá chegando, não tinha médico de plantão e demoraria para chamá-lo, pois provavelmente estaria dormindo. Então ela pediu para usar o telefone da clínica para ligar para uma outra que ela conhecia no Sumaré, que era a mais perto de casa. Ligou explicou da urgência e pediu que se a ambulância chegasse antes dela era para esperar que ela chegaria em seguida. Chegaram praticamente juntos e, na ambulância, veio um clínico geral, que era o médico que estava de plantão. Ao ver meu estado – e note que nessa altura já tinha passado mais de uma hora – ele simplesmente disse que não podia fazer nada. Tinha que ser um ortopedista e de preferência especializado em membros superiores, pois a coisa estava mesmo feia! Como ele tinha vindo em uma ambulância, depois de muito argumentar, minha esposa o convenceu de levar-me na ambulância para uma clínica especializada. Tudo isto acontecendo com minha filha, de 1 ano e nove meses, dormindo no quarto ao lado.  E não acordou – como ela é boazinha!
            Então o médico sugeriu que minha esposa fosse também para ficar comigo na clínica. Não tinha alternativa. Ela me disse que nossa filha nunca acordava à noite e que, certamente, Deus a olharia por nós.  Colocaram-me a calça do pijama e me jogaram a blusa no ombro, pois não tinha como vesti-la. E lá fomos nós na ambulância, que a cada buraquinho que fosse, eu gemia de dor, pois movimentava o braço.
            Chegando à clínica, o ortopedista não estava, mas fui atendido por um bom enfermeiro, que enquanto o médico acordava e se dirigia à clínica, ela já providenciou radiografias, exames etc.. Chegando, meio sonolento, o ortopedista, depois de analisar as radiografias, veio e disse que o caso era muito grave, mas que não tinha ocorrido desligamento de tendões, nem tinha quebrado nenhum osso. Que tinha duas opções. Chamar um anestesista geral para me anestesiar e colocar o braço no lugar – que era o certo – mas demoraria mais de uma hora (nesta altura já era umas três ou quatro da manhã), ou ele colocaria o braço no lugar em três ou cinco minutos, mas doeria muito. Já estava doendo há tanto tempo e não tinha como doer mais, eu pensei. E disse que queria que recolocasse o braço no lugar assim mesmo! Falei como “macho”. Ele insistiu que doeria muito. Eu concordei.
            Ele então disse para o enfermeiro me segurar por baixo dos sobacos e colocar os joelhos nos meus ombros. Ele sentou em cima das minhas pernas, e disse para eu rezar para não prestar atenção na dor. Pegou meu braço, virou-o e começou a fazer uma espécie de zig-zag, como quando a gente quer empurrar um móvel pesado e vai virando para lá e para cá. Nesta hora descobri que o termo “ver estrelas de dor” existia mesmo! Comecei a ver umas estrelinhas “amarelas” num céu preto, que vinham e estouravam na minha cara... e foram aumentando em quantidade e tamanho. Daí eu entendi, porque os joelhos nos meus ombros e ele assentado em minhas pernas, porque se tivesse uma parte livre, eu bateria, chutaria e faria qualquer coisa, até sem perceber, por puro instinto. Eu não conseguia mais rezar. Só ouvia minha esposa repetindo: “-Nossa Senhora Aparecida... Nossa Senhora Aparecida... Nossa Senhora Aparecida...” Não sei se foram três, cinco ou dez minutos, na verdade foi uma eternidade, mas finalmente ele colocou o úmero junto ao encaixe do ombro. Foi um alívio!!!! Quando quis falar, o médico enxugando a testa com um lenço, disse para esperar, pois não tinha acabado o serviço.  Então ele pegou meu braço, com cuidado, deixou-o reto, segurou firme no braço e antebraço, deixando-o perpendicular ao corpo e deu um empurrão para acoplá-lo no ombro. Dei outro grito e então ele disse que estava pronto!
            Aí o enfermeiro me sentou para enfaixar o tronco, pois não tinha como engessar, mas tinha que ficar imobilizado. Fui enfaixado em todo o tronco – do umbigo à altura do pescoço, deixando apenas a mão para fora, mas praticamente sem movimento, pois ficava presa ao peito. Feitas as recomendações necessárias e escritas as receitas, já era quase cinco horas da manhã. Foi aí que nos lembramos de nossa filha, de 1 ano e 9 meses, que se encontrava sozinha em casa. Novamente na ambulância, fomos para casa e a encontramos dormindo como um anjinho, pajeada por Deus e todos os Santos que invocamos em nossas orações.
           
Nota: Este causo tem continuação. Aguarde!

sábado, 11 de janeiro de 2014

Causo 88 Gilmar dos Santos Neves


Nicanor de Freitas Filho
            Em 1958, eu era interno na Escola Agrotécnica de Muzambinho, aliás, época de inesquecíveis passagens da minha vida, onde aprendi muito na escola da vida. E morria de “inveja” dos meus irmãos e amigos por estarem em Araxá, entre abril e maio daquele ano, porque a Seleção Brasileira de Futebol, que tinha como convocado o nosso saudoso conterrâneo Formiga, ficou em treinamento cerca de 30 dias em Araxá.
Recebia cartas, do meu irmão mais velho, informando que os treinos eram ótimos de se assistir, pois o Estádio Fausto Alvim em Araxá, como quase todos do interior brasileiro, não tem túnel para ir dos vestiários ao gramado. Assim, os jogadores saíam dos vestiários e iam caminhando para o gramado, no meio dos jovens fãs, que ficavam todos entusiasmados em conversar e tocar nos “monstros sagrados” do futebol brasileiro. Como o Formiga só foi cortado depois desses treinos em Araxá, por uma lesão na coxa, ele também “ajudava” a aproximação dos torcedores aos craques.
(Lá em Araxá, os entendidos dizem que ele foi cortado, porque num dos últimos treinos, no Estádio Fausto Alvim, o então prefeito de Araxá, segurou-o durante a seção de aquecimento, para tirar fotos com ele e “aparecer” e o Formiga acabou não fazendo corretamente o aquecimento e iniciou o treinamento “frio” e teve a distensão muscular, que lhe custou o corte da Seleção; porque naquela época ele era mesmo, muito melhor que o Orlando, que foi o titular. Não sei se é verdade ou se é desculpa para justificar o corte. É o que dizem!)
É claro que os garotos discutiam sempre, quem seriam os “cortados” – porque ficaram lá em treinamento, cerca de 40 jogadores – quem seriam os titulares e assim por diante. Lá em Araxá tinha um time “infanto-juvenil” chamado Najá-Mirim, que tinha garotos bons de bola, onde jogava meu irmão mais velho. Alguns eram bem “metidos” e se “achavam”!  Era o caso de um dos mais velhos da turminha do Najá-Mirim.
Num dos últimos treinos, quando a garotada já estava “íntima” dos craques, esse nosso amigo, segundo me contaram, na hora que os craques saíram do vestiário e se encaminhavam para o gramado, aproximou-se do Gilmar dos Santos Neves, puxou-o pela camisa e teria dito: “- Deixe-me cobrar um pênalti em você, que apostei com meus amigos que faço o gol?” O Gilmar, muito educado e esperto, teria respondido a ele: “ – Você é muito jovem ainda, quem sabe você terá outra oportunidade, mas não vai ser hoje não!”
Passados exatos 40 anos, em 1998, eu era Gerente Comercial da OESP Gráfica e imprimimos um livro para Editora Rideel, chamado “Futebol que Lava a Alma”, do jornalista Miguel Arcanjo Terra, cujo lançamento foi feito num Centro Comercial na Zona Norte de São Paulo, mais especificamente, num bar que fica no Centro Comercial. Fui convidado para o lançamento e saindo de Alphaville, onde ficava a Gráfica, fui direto para o Bar, chegando lá um pouco antes da hora dos autógrafos. Ao entrar no Bar – local do lançamento do livro – dou de cara com Gilmar dos Santos Neves conversando com o Milton Neves, numa das mesas. Ambos, também convidados do Miguel Arcanjo. Não perdi a oportunidade, após me apresentar, esclarecer que estudei em Muzambinho, contei a história para o Gilmar, do amigo que queria cobrar um pênalti nele, e, disse que não poderia perder a oportunidade de pegar seu autógrafo, para compensar a vontade que passei, estando longe, não poder ver os craques treinando em Araxá. Ele gentilmente me concedeu o autógrafo e comentou: “- Como fui ruim com seu colega! Não custava nada ter brincado com ele, embora a Comissão Técnica fosse muito rigorosa, quem sabe ele teria sido incentivado e pudesse progredir mais no esporte.” E então eu brinquei, dizendo que hoje ele seria famoso, por ter feito ou perdido o gol no Bi-Campeão Mundial de Futebol.
Quanto ao Milton Neves, quando ele viu que estudamos na mesma época, ele no Ginásio e eu na Escola Agrotécnica, me perguntou pelo Cuiabano, nosso colega na Agrotécnica, goleiro titular durante o tempo que lá estudou. Disse que não sabia dele, mas que o nosso colega Montipó, com certeza saberia, pois mantinha um cadastro atualizado de todos os ex-alunos da Escola. Falei com o Montipó, que, juntamente com o Falcucci, trataram de convidar o Cuiabano para ir a Muzambinho e, não é que se encontraram?
(Se voce quiser saber a historia do Cuiabano é só acessar www.miltonneves.com.br  ir na janela "que fim levou" entrar na letra C ir direto na ultima página. Veja as fotos do encontro).

domingo, 5 de janeiro de 2014

Causo 87 Testemunha de "Ataque"


Nicanor de Freitas Filho
            Tenho um amigo, que foi aposentado compulsoriamente da função de Desembargador do TJ de São Paulo, por completar 70 anos. Não queria, mas o obrigaram a parar.
            Outro dia num almoço ele comentando várias passagens, desde que passou no concurso para Juiz de Direito, e, como todos começa no Interior do Estado, via de regra em cidades pequenas.
            Contou-me que como tinha muitos processos com audiência no mesmo dia, aproveitava cada intervalinho, por menor que fosse, para dar uma “revisada” no processo da próxima audiência. 
            Num determinado dia, cheio de audiências, ouviu uma testemunha e enquanto saía da sala, ele queria dar mais uma olhadinha no próximo processo. Baixou a cabeça, abriu a pasta e foi direto no ponto que o interessava. Leu um grande parágrafo, deu uma olhadinha com o rabo do olho e viu que a testemunha ainda se encontrava no mesmo lugar. Ótimo, ele pensou, assim tenho tempo de chegar até o final desta parte. Baixou a cabeça e continuou lendo. Aparentemente não havia nenhum movimento na sala. Voltou a se concentrar na leitura. Leu mais uma página e, de novo, como o rabo do olho viu que a sala continuava do mesmo jeito. Já havia passado pelo menos uns 15 minutos. Então ele resolveu colocar a casa em ordem! Com alguma rispidez, mas sem ser mal educado, ele olhou firmemente para a testemunha, que lá continuava, e disse: “-Senhor Fulano, seu depoimento já terminou, queira se retirar, para entrar a próxima testemunha, por favor.”
            Meio tímido, mas também com firmeza, a testemunha replicou: “-Doutor, eu não sou o Fulano, sou o Sicrano, irmão gêmeo do Fulano...”  Caramba, pensou ele, tinham que usar, ambos, a mesma camiseta do MST?
            Ele disse que não sabia onde enfiar a cara, pois aconteceu por pura falta de atenção dele, e, o pior, na frente dos advogados, que não conseguiram segurar o sorrisinho irônico...