Vera Ligia Carli
ZE e MARIA, cansados da dura vida que levavam, sem ver
resultado no labutar diário de um
trabalho pesado que lhes tiravam o “couro”, alertado por um vizinho esperto,
decidiram correr atrás do programa SEM MISÉRIA, patrocinado pela FABRICA DE
BOLSA BRASIL.
O casal, ZE e MARIA são pessoas extremamente pobres em
recursos, e, ricos na prole. Geraram tantos, que ate esqueceram o numero exato
de filhos. Uns, natimortos. Outros, foram a óbito antes do primeiro ano de
vida, vítimas de desnutrição. Remanesceram tantos outros, cuja ordem dos nomes
ou de nascimento são incapazes de enumerar.
Unidos aos filhos, que com eles habitam o mesmo barraco, ZE
e MARIA, analfabetos, treinados por
interesseiros candidatos a desenhar suas respectivas assinaturas foram levados
ao Cartório Eleitoral e com titulo em mãos, recém-conquistado, formavam um
bloco de votantes que não se poderia desperdiçar.
Em contraprestação foram informados da existência de
diversos programas nacionais em que poderia toda família se habilitar, tirando proveito
dessa industrialização de bolsas produzidas pelo grande fabricante, chamado
BRASIL. BOLSAS para todos os gostos
feitas e pagas com o couro do contribuinte.
ZE e MARIA candidataram-se ao BOLSA FAMÍLIA, que engloba
o bolsa
alimentação, o bolsa escola
e o auxilio gás, embora, no barraco deles o fogão é a lenha e a escola por
aquelas redondezas não existe e a verba para alimentos é insuficiente para
compra da indispensável farinha de mandioca. Pais e filhos analfabetos.
O treinamento para desenhar a assinatura no titulo de
eleitor foi a instrução básica e fundamental recebida, o suficiente para
envaidecê-los com a condição de novos eleitores e a conquista da cidadania, que
para eles é como se tivessem concluído curso de doutorado. “Documentados”
abandonaram o campo e partiram para a cidade grande, cheios de sonhos.
A filha, FÁTIMA, de inicio trabalhou como domestica. Foi
assediada no emprego por um homem
civilizado, filho do patrão, que depois de engravidá-la, a demitiu “por justa causa” e palavras ameaçadoras para fugir da paternidade irresponsável. Sem condições de criar o filho, e, sem creche
a acolhê-lo, entregou-o para adoção. Com dificuldade
de emprego, provocado pelo analfabetismo, partiu para a prostituição na
expectativa de ser favorecida pela propagada e falsa BOLSA PROSTITUIÇÃO de R$ 2.000,00/mês.
Não se desestimulou. No ano seguinte, sem temor e sem pudor, surge novamente
grávida, desta feita, sem nem saber quem é o pai. Contudo, bota fé no BOLSA
FAMÍLIA. Quer seguir o caminho da vizinhança: bolsa escola, bolsa leite, bolsa gás, bolsa família.
Sem maiores pretensões, ousa a imaginar que melhor sorte
teve a sua irmã, ROSINHA, jovem, com 15 anos, muito magrinha, corpo esguio produzido
pela fome. Corpinho perfeito. Cabelos naturalmente bonitos, sem jamais ter
experimentando qualquer produto químico. No máximo, óleo de babosa natural,
quando ainda vivia pelo sertão. Arrumou emprego de ajudante de limpeza em
imobiliária da periferia, por onde morava. Graciosa e com bom rebolado, ouvia
no decurso de seu caminho de ida e volta ao
trabalho o assobio de pedreiros (termômetro de quem está podendo...).
No inicio do ano, ao descer do ônibus e aproximar de um
terreno baldio foi pega e sob forte ameaça levada à força, para imediações da
linha do trem, e, se tornou mais uma vitima de estupro.
Indignada e com razão repudiava o filho que não pediu.
Meio preguiçosa e inteiramente esperta. Fez do limão uma limonada. Já pensa
depois de usufruir da licença maternidade, abandonar o emprego, depois receber
o seguro e correr atrás do BOLSA ESTUPRO.
O irmão, SEVERINO, deixou a vida de vaqueiro do sertão e
passou a ajudante de pedreiro. O peso de transportar a carriola lotada de
pedras e tijolos o deixou mais musculoso. Encheu-se de graça. Fez um corte moderno
no cabelo. Tatuou o corpo. Passou ouvir os sertanejos e a frequentar botecos de
finais de semana. E acabou por conhecer o mal maior. Caiu nas drogas. Perdeu o
emprego. Agora pede socorro ao BOLSA CRACK de R$ 1.350,00/mês.
Quase uma dezena de outros filhos, inatendidos pelo Poder
Publico, sem escola, sem creche, com idades variadas, atropelam entre si no
minúsculo barraco, uns com chupeta na boca, nariz escorrendo; outros chorando
com a fome apertando... totalmente iludidos com o vandalismo de Estado na
ofertas das bolsas de nulidades, que muitas vezes os retiram da humildade de
suas casas em suas cidades de origens para majorar o sofrimento e morrerem no
abandono da cidade grande.
E há quem aplauda o triunfo das nulidades governamentais.
E, de tanto ver triunfar as nulidades... digo, o sucesso
das BOLSAS, S. Excia, a PRESIDENTE DA REPUBLICA, por via do decreto 8.026/13, publicado
em edição extra do Diário Oficial da União, premiou os Srs. Ministros de
Estado, servidores federais e os comandantes e oficiais das Forças Armadas com
a BOLSA COPA, concedendo aos mesmos o direito de assistirem às partidas da COPA
DAS CONFEDERAÇÕES, deslocando-se para as cidades sedes dos jogos com direito a
diária suplementar de mais R$ 581,00.
O contribuinte já não tem mais força para sustentar tanta
BOLSA, principalmente, sem saber se estão sendo penduradas em ombros certos ou
desviadas para cabides alheios de não necessitados.
A esperança é que parem de tirar o couro do povo, ou a
continuar tirando proveito, necessário que identifiquem os beneficiários com a maior
transparência possível, em sites oficiais das instituições concedentes, pois,
intolerável que a FABRICA DE BOLSAS BRASIL, continue sendo uma sociedade
anônima, onde o cidadão brasileiro, contribuinte, desconheça o destino do
tributo pago, porque há sócios preferenciais, não nominados, que se acham
cidadãos de classe superior e como guardiões de recursos alheios estão imunes a
indispensável, rígida e permanente fiscalização.
Esse é o reclamo geral.