sexta-feira, 29 de junho de 2012

Causo 50 Fofinhos do Zé Mané


Nicanor de Freitas Filho
            Fui à casa de um casal de amigos, meus vizinhos, para levar uns ovos moles de Aveiro que trouxe para eles. Ele tem dois filhos, com 6 e 9 anos. Vou me referir ao mais novo como “Zé Mané”, que é como ele chama um dos tios dele.
            Os pais dele me mostraram um “livro” que ele “escreveu”, tudo com aspas, porque ele ainda não é alfabetizado. Aprendeu escrever e ler observando o irmão mais velho estudar. O fato é que ele dobrou uma folha de papel sulfite em quatro partes, na frente, a capa, está escrito “Os fofinhos” e tem um desenho azul, que eu não consegui definir claramente o que representa (é uma obra de arte, não precisa entender, basta apreciar). Nas páginas interiores tem uma estória assim: “ Era uma ves um bebê fofinho que foi viachar e achou uns bebês fofinhos no meio do caminho. E foi achando mais bebês cando eles acharam um ome e um deles teve uma ideia. Ele falo por que a chente não fala com ele para ele se o nosso pai. Eles foram percontar e ele aseitou. E viveram felizes para sempre.” (sic).
Na capa de trás, está escrito: “Autor e Desenhador: Vitor B. Aquino”.
            O irmão mais velho, o corrigiu, dizendo que não era desenhador e sim ilustrador, no que ele respondeu com toda certeza: “Eu escrevi e desenhei, só isso!”
            Eu fiquei impressionado, pois ele ainda não é alfabetizado. Aprendeu escrever porque tem um irmão mais velho, por sinal, muito inteligente – quase um perfeccionista – pois quer tudo o mais certinho possível. Ele pede ao pai para rever as lições e fala que se tiver alguma coisa errada, só fala que tem coisa errada, mas não diz o que, nem onde. Ele acha que ele é que tem que descobrir o erro.
Obviamente que os pais também têm muito a ver com o desenvolvimento do Zé Mané, porque o incentivam a ler e criar coisas dentro da área educacional. Por exemplo, a estante deles é baixinha, para não ter que pedir a ninguém para pegar os livros. Procuram comprar livros impressos em caixa alta, para facilitar a leitura.
            Outro dia o irmão mais velho estava tentando fazer uma redação sobre tartaruga e o Zé Mané, ali por perto, jogando futebol de botão. De repente ele sugeriu ao irmão mais velho que contasse uma estória “que a tartaruga voou até o céu e foi pedir”... O mais velho interrompeu-o dizendo: “Tartaruga não voa, ô rapaz”. Ele imediatamente respondeu: “A tartaruga é sua, é da sua estória, você faz o que quer com ela...”
            A Mãe deles observou: “Essa é a diferença entre inteligência e criatividade!”
            A Mãe, para incentivar e ver se ele tinha entendido o que ela acabava de explicar para o irmão mais velho, com ele presente, escreveu num papel e mandou que ele completasse com adjetivos:
                        A Mamãe é...
                        O Papai é...
                        O meu irmão é ...
                        O Zé Mané é...
            Ele não precisou de muito tempo e completou:
                        A Mamãe é BONITA.
                        O Papai é INTELIGENTE.
                        O meu irmão é LEGAL.
                        O Zé Mané é FANÁTICO POR FUTEBOL...
            Certíssimo! Afinal ele é torcedor do Corinthians!!


quarta-feira, 27 de junho de 2012

Causo 49 Pardal Esperto!


Nicanor de Freitas Filho
Ainda falando da excursão, em Montreux, onde chegamos à tardinha, tínhamos a noite livre para jantar e passear pela linda cidade, banhada pelo Lago Leman. Minha esposa, eu, mais dois casais e uma amiga da excursão, depois de caminharmos bastante, resolvemos parar numa lanchonete, pois tínhamos almoçado muito bem em Gruyères, que bastava uma refeição leve à noite. A Lanchonete era uma espécie de self-service, mas quem servia era o atendente. A gente apontava o que queria e ele ia colocando na bandeja. Algumas comidas ficavam num balcão refrigerado aberto, como os de supermercados que vendem iogurte e frios já fatiados.
            Cada um de nós fez o seu pedido, fomos com nossas bandejas para uma mesa, que fomos emendando e começamos nossa refeição. Como sabem, lá nessa época do ano o sol se esconde só depois das 21:30 h e pela hora que bati a foto, marcava 20:33 h, portanto estava ainda claro. A lanchonete fica ao lado dos jardins, que separam a Grand Rue do Lago Leman.
            De repente vimos um pardalzinho entrar voando pela porta larga e ir direto ao Buffet de comidas refrigeradas, e, sem cerimônia nenhuma, pousou sobre um prato de doces folhados e “jantou” o que quis. Depois ainda fez suas necessidades sobre o prato dos doces.
            Eu tive tempo de puxar a câmera e fotografar a cena, embora um pouco longe dá para perceber o intruso pardal saboreando os doces...

domingo, 24 de junho de 2012

Causo 48 Senhor João Pelado


Nicanor de Freitas Filho
            Vou contar alguns causos que ouvi na minha viagem de férias, pois senão esquecerei mais tarde.
            O senhor João Pelado, com ele era conhecido na Miragaia, Portugal, trabalhava nas propriedades da região para ganhar a vida. Podando videiras, colhendo, carpindo, semeando ou fazendo o que lhe era indicado. Ele era, de fato, muito esperto e fazia o que lhe pedissem. Naquelas bandas o costume é o “patrão” contratante servir uma refeição, que lá é sempre acompanhada de vinho, geralmente feito pelos próprios. E segundo me contaram, tinham aqueles “bons patrões” e aqueles não “tão bons assim”, ou seja, alguns serviam comida à vontade, e boa. Comida boa lá, não é a bem feita, pois estas todas são, comida boa é aquela que tem “substância”, principalmente carne. E o vinho é servido também à vontade. Mas geralmente o vinho era colocado sobre a mesa, num garrafão e apenas um copo, que cada um se servia tomava e passava para o colega da frente.
            Num desses dias, foi servido apenas legumes cozidos com batatas. Mas no prato do “patrão” tinha um grande naco de carne de porco, cheirosa e com cara de muito boa. Todos se olharam, mas nada podiam fazer, pois eram muito educados e a regra era não reclamar. Mas o senhor João Pelado era muito espirituoso, de raciocínio muito rápido e não perdia oportunidade para demonstrar este seu espírito alegre e “gozador”. Veio uma mosca e pousou na beirada do seu prato, no que ele espantando a mosca com uma das mãos, disse:
            “ – Sai do meu prato mosca, aqui não tem nada que lhe agrade, hoje é dia de jejum!”

            Num outro dia, mas em uma outra propriedade, serviram a comida, colocaram o garrafão de vinho sobre a mesa e um “copinho” muito pequeno, para que bebessem pouco. Quando chegou a vez do senhor João Pelado, ele se serviu e, sorrateiramente, colocou o copinho no bolso. Logo alguém perguntou pelo copo, no que ele imediatamente respondeu:
            “ – O copo era tão pequeno, que o engoli, sem perceber...”

terça-feira, 19 de junho de 2012

Causo 47 Palácio da Opera de Viena



Nicanor de Freitas Filho
            Estive recentemente numa excursão em Viena. Na visita que fizemos ao Palácio da Ópera, um dos templos mundiais da música clássica, onde são executadas todas as composições de Mozart e Strauss – principais atrações locais – mas lá não tem preconceito, toda boa música é executada.
            Trata-se de um prédio inaugurado no dia 25 de maio de 1.869, de rara beleza arquitetônica e muito imponente. Um verdadeiro templo da música clássica e do luxo imperial do Século XIX. Como todos os dias tem apresentações diferentes, o palco que é enorme, pode ter três montagens ao mesmo tempo. É alguma coisa para se ver, muito difícil de descrever. É incrível!!
            Foi projetado pelos arquitetos August Sicard Von Sicardsburg e Edward Van Der Null, que fizeram um trabalho de Mestres, que muitos arquitetos gostariam de ter feito.
            Não sei se é lenda ou verdade, portanto é um causo, conta-se que o Imperador – Francisco José, que foi casado com a famosa Sissi – ao ir para inauguração, não gostou do estilo do prédio e teria dito que “ -... mais parecia uma estação de trem que um Palácio de Ópera.”
            Ao tomar conhecimento disto o arquiteto Van Der Null suicidou-se de desgosto e vergonha, pois pensava ter feito uma das mais bonitas obras de Europa – o que é verdade – mas não agradou o Imperador Francisco José.
            Conhecendo os sentimentos do colega e sem saber que ele tinha suicidado, o arquiteto Sincardsburg, foi visitá-lo para lhe dar apoio. Ao encontrá-lo morto, por suicídio, sofreu um infarto e também faleceu.
            Por causa desta história, na Áustria, quando alguém vai à casa de um amigo, para um jantar, ou no casamento de uma filha, ou qualquer recepção, no dia seguinte para elogiar o evento, costuma-se ligar para o anfitrião e dizer: “ -  não precisa suicidar...” Ou seja, o evento agradou e foi muito bonito! Estava tudo perfeito!
            Na hora que ouvi este causo, contado pela Guia da Excursão, lembrei-me do causo que meu amigo, mineiro que mora no Rio me contou. Uns compadres do pai dele, todos da roça, do interior de Minas, provavelmente Muriaé, foram no casamento da filha de um dos compadres e saíram conversando sobre a linda festa. Um deles teria dito que foi a melhor festa que ele já tinha ido. Que tinha sido tudo perfeito! Que tinha tudo, além de primeira, de boníssimo gosto! Muita fartura! – que isto para eles é de muita importância – elogiou o que pode e os demais iam concordando com tudo. Não só concordavam como faziam mais loas aos pais da noiva e aumentavam um pouco mais o elogio. Ou seja, tinha sido uma festa perfeita!
            Aí, um deles, que tinha só escutado o tempo todo, falou:
            “ – Só faltou o doce de mamão...”
            Os outros olharam para ele como que recriminando. Um deles disse:
            “ – Você já viu servir doce de mamão em festa de casamento?”
            “ – Não, mas é o doce que eu mais gosto...uai”
            Então, quando se vai num casamento que a festa foi muito bonita, quem quiser elogiar os anfitriões, ligam e dizem:
            “ – Na sua festa só faltou o doce de mamão...”