sexta-feira, 11 de maio de 2012

Causo 46 Galinhada


Nicanor de Freitas Filho
            Crucilândia é uma cidade mineira, pertinho de BH. Deve ter hoje, cerca de quatro ou cinco mil habitantes. O causo que vou contar ocorreu aí por volta de 1975 e deveria ter naquela época uns três mil habitantes, se muito. Fui passear lá porque tinha um primo – casado com minha prima – que era de lá. Pertencia a uma família grande, como quase todas do interior de Minas. Creio que tinha 8 ou 9 irmãos. E nós fomos passar lá um carnaval. Ficamos hospedados na casa de outros amigos, cujo dono já tinha sido Prefeito de Crucilândia duas vezes. Tinha uma casa grandona!
            Esse primo, já falecido, a quem devo muito profissionalmente, pois não só aprendi muito com ele, como me deu a primeira chance real profissional, entregando-me a Seção de Contas a Pagar da Encyclopaedia Britannica do Brasil. Ele era trabalhador e esforçado, inteligente e criativo, possuía uma liderança natural! Foi um excelente Administrador, chegando à Vice-Presidência da Encyclopaedia Britannica do Brasil (naquela época não tinha Presidência no Brasil). Ele tinha uma característica: era um “gozador nato”. E como ele gostava de uma “molecagem”, daquelas pesadas mesmo! Vou contar vários causos dele aqui.
            No segundo dia de nossa estada em Crucilândia, o meu primo passou, à noitinha, na casa em que estávamos e disse para prepararmos para ir roubar galinha.
“ - Como assim, eu perguntei, roubar galinha? Onde? Porque? Não dá para comprar?” 
Ele explicou que ia roubar galinha de um dos irmãos dele!
“ - Mas por que? Não podemos pedir para ele?”
“ - Claro que não, ele foi logo explicando, galinha roubada é muito mais gostosa do comprada ou ganha. Não tem comparação!”
Então fomos nós roubar galinha na chácara do irmão dele, já que são mais gostosas.
            Quando chegamos à Chácara, as galinhas já estavam empoleiradas nas árvores e ele instruía: é só encostar o bambu no pé dela, que ela sobe e a gente pega. Aí é só pear e levar para outra cunhada fazer a galinhada.  E assim roubamos 4 galinhas de um irmão e levamos para a casa de outro irmão, para a mulher dele fazer a galinhada. E a cunhada, excelente cozinheira, fez uma deliciosa galinhada, que comemos bebendo cachaça e cerveja.
            Lá pelas tantas, um dos irmãos, começou a “jogar indiretas” para o dono das galinhas. Mais ou menos assim:
“ – Que galinha gostosa! Tão gostosa quanto a que comemos, outro dia, na casa do Zé...” Ou:
“– Nem o Zé, que entende do assunto, é capaz de criar galinhas tão gostosas assim!” E por aí foi... Mas todos nós continuamos comendo e bebendo numa boa. Até que uma hora, o Zé, com uma grande coxa da galinha, segura pelo osso e levando à boca, com um copo de cachaça na outra mão, se tocou com as deixas, parou com a coxa entre os dentes, boca aberta, e sussurrou:
“ – seus f.d.p. vocês roubaram minhas galinhas...e tiveram a cara de pau de me convidar...?”
            E foi uma risada só, sendo a dele a mais gostosa...

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Causo 45 Muitos Confetes...


Nicanor de Freitas Filho
Como Economista, trabalhei por 7 anos, num Grupo Financeiro, tendo sido Assessor do Diretor Superintendente por 5 anos. Nesta função, executei muitos trabalhos, alguns corriqueiros, que sempre procurei “fazer diferente” para melhorar, alguns difíceis que davam muito trabalho de pesquisas, e, principalmente alguns complexos, que me obrigava a estudar muito, antes de executá-los... O certo é que sempre procurei fazer “o melhor” e até acho que era reconhecido o meu esforço.
Numa altura desses 7 anos, indiquei um amigo para trabalhar no Grupo, que ficou conhecendo e se engraçou com à minha “secretária” – é, naquele tempo tinha-se Secretária, porque os trabalhos eram grandes, exigiam pesquisas e principalmente datilografar tudo, sem erro, e organizar toda aquela papelada e a agenda de trabalho – e acabaram se casando e estão casadinhos até hoje.
Ela era muito esperta, criativa e espirituosa, me ajudava muito. Eu tinha uma mania de conferir tudo, duas ou três vezes. E quando achava que o trabalho tinha ficado bom, de verdade, eu às vezes, perdia a modéstia, dava aquele tapinha com as costas das mãos no papel e falava comigo mesmo:
- Êta menino bom! Que maravilha de trabalho! Pode pedir aumento pro Chefe!
Acho que aquilo foi “saturando” a paciência da Secretária – que era e é muito minha amiga – pois como fazia sempre trabalhos que ficavam bons, sempre eu me autoelogiava.
Um dia, ao terminar um serviço, ela me entregou, e ficou esperando pois era urgente. Acabei de ler, dei aquele tapinha no papel, com as costas da mão e soltei minha frase predileta:
- Êta menino bom! Que maravilha de trabalho! Pode pedir aumento pro Chefe!
No que ela, sem pensar muito, respondeu:
- Chefe, você tem razão, ficou muito bom. Aliás, você trabalha muito bem,ainda que somente use uma das mãos, porque enquanto trabalha com a mão direita, usa a mão esquerda para jogar confete na própria  cabeça...

Falta de respeito! né?