terça-feira, 27 de setembro de 2011

Causo 29 Preciso comprar um Vovô novo!

Nicanor de Freitas Filho
            Eu tenho um neto de 4 anos, do qual sou uma espécie de “motorista particular”, além de companheiro de futebol, de corrida de carrinhos, de jogar tênis, de montar quebra-cabeças, de orientar para lições, parceiro de dominó, de jogo da velha e por ai vai... Nossas atividades são muitas. Dentre estas, às terças e quintas eu tenho a obrigação de buscá-lo em uma Escola e levá-lo diretamente para outra. Então, às vezes, tenho que tomar algumas providências, como trocar o tênis, colocar ou tirar o agasalho, etc.. Dentre muitas, uma delas é separar e levar o brinquedo que ele, geralmente escolhe na véspera, e me avisa para eu levar no dia seguinte, porque na primeira escola ele vai direto da casa dele e os brinquedos que gosta de levar na Escola ABC ficam aqui em casa.
            Numa das quartas-feiras ele me passou a obrigação: pediu para levar o McQueen, o Tick Ricks e Nitroage, que para quem não tem netos ou filhos nesta idade, são três carrinhos, personagens dos desenhos de Walt Disney. Não sei por que motivo, acabei saindo correndo e esqueci os três carrinhos em cima da mesa da sala. Ao colocá-lo na cadeirinha, abotoar o cinto de segurança, ele foi logo “cobrando”:
            “ – Cadê os meus carrinhos?”
            “ – Ô meu filho, desculpe o Vovô, sai correndo de casa e esqueci em cima da mesa da sala.”
            Ele fez aquele “olhar 43”, colocou o dedo indicador da mão direita no queixo e disse:
            “ – Acho que estou precisando comprar um Vovô novo!”
            Fazer o que, né? Ele deu o recado! Mas não perdi oportunidade e quando ele fez a primeira pirraça eu dei o troco:
            “ – Acho que estou precisando comprar um netinho novo!”
            “ – Pode comprar, mas compra um igualzinho ao Guigui!”    

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Causo 28 Uma em um milhão


Nicanor de Freitas Filho
Todos já sabem que trabalhei em Cuiabá por dois anos, num grupo Imobiliário. Lá chegando, fiz o curso do CRECI e fui para a luta, exatamente no período do Plano Bresser, que fechou todos os financiamentos imobiliários. Aliás, no Governo Sarney tudo que foi feito, foi mal feito, nem o Mailson da Nóbrega conseguiu ajudar. Esquece...
Na imobiliária, passei a utilizar a Parati que antes, era usada pelo Gerente de Vendas, e, com isso ele passou a ir trabalhar de moto. Quem não deve ter gostado foi o cunhado dele, que pegava carona com ele todos os dias para ir almoçar na casa da irmã. Se bem que a moto era uma Honda Fireblade 1000, ou seja, era uma MOTO. Eu, por exemplo, não gostaria de andar na garupa nem de Harley Davidson. Mas também, cunhado é cunhado, se fosse coisa boa não começaria com as letras que começa. Ah se meu cunhado ler isto – estou cometendo uma injustiça – pois gosto dele como gosto dos meus irmãos. Mas ele deve ser exceção...
Bem, o fato é que todos os dias o cunhado dele, que é advogado e trabalhava no prédio que fica a uma quadra da Imobiliária, ia chegando perto do meio-dia ele já aparecia lá no escritório, da Av. Isaac Póvoas. O Gerente de Vendas morava no Jardim das Américas e então pegava a Avenida Fernando Correa da Costa, que estava com um asfalto novinho. Note que o asfalto em Cuiabá era bastante abrasivo, ou melhor, áspero.
Nessa avenida tem, ou tinha, algumas lojas e depósitos de material de construção. Em frente um deles, tinha lá um motorista que estava sozinho, amarrando a lona no caminhão. Não sei se vocês já prestaram atenção, mas este trabalho, quando se faz sozinho, é um pouco demorado porque o motorista tem que amarrar a corda em um dos ganchos, que ficam ao nível do assoalho da carroceria, fazer um rolo com a corda e jogá-la para o outro lado do caminhão, para amarrar num dos ganchos do outro lado e repetir a operação até amarrar a corda em toda a extensão da carroceria, segurando assim a lona bem presa à carga. Esta corda, geralmente recebe um laço em cada ponta, para evitar que desfie. Na verdade dão uma laçada, que fica com um diâmetro de uns 20 a 25 cm, que é usada para prender no primeiro gancho e na outra ponta facilita a amarração final.
Então, o motorista estava lá na Avenida Fernando Correa, amarrando a lona e o Gerente de Vendas vinha com o cunhado na garupa da Honda Fireblade, imagino que a uma velocidade de cerca de 80 km/h, pela mesma avenida, que estava com pouco trânsito ou nenhum talvez, por isso podia desenvolver uma boa velocidade.
Ao passar ao lado do caminhão parado, o motorista que estava no lado do passeio, atirou por cima do caminhão, o rolo de corda para o lado da rua. Aquela laçada de 25 cm caiu exatamente sobre o espelho retrovisor da moto laçando-o. Obviamente a moto ficou amarrada e presa e os dois continuaram na mesma velocidade, só que de repente não estavam montados em nada, ou seja, foram ralando no asfalto por cerca de 10 ou 12 metros. Vocês já viram os pilotos de moto de corrida quando caem saem escorregando por 40 ou 50 m.? Pois é! Só que nossos amigos não estavam com aquelas roupas especiais, ou seja, foram ralando a pele e parte da carne mesmo.
O cunhado, até por instinto, se agarrou mais ainda no Gerente, que ficou por baixo. Imediatamente fomos informados, no escritório e corremos para o hospital para onde tinham sido levados. Chegando lá vimos um quadro assustador. Ele tinha esfolado todo o lado esquerdo: ombro, braços, bacia, coxa e tornozelo. Tinha lugar que aparecia o osso. Os médicos estavam lá fazendo os curativos e exames e tivemos que sair da sala de atendimento. Ao sair, encontramos com o cunhado, com apensas um curativo na mão esquerda. Levantou os três dedos enfaixados e disse:
“ – Pô caramba, ao segurar no meu cunhado, minha mão esquerda ficou por baixo, veja como ficaram meus três dedos (mínimo, anelar e médio). Ralaram tudo!
Cunhado é cunhado!

P. S.: Segundo um Estatístico, a chance do caso se repetir deve ser perto de 1 em 1 milhão...

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Esportes Corinthians 0 x 0 São Paulo

                Nicanor de Freitas Filho

Hoje ao abrir os jornais, tive que dar uma sonora gargalhada. Explico:
No caderno de Esportes, tem um pedaço da entrevista dada pelo grande Rogério Ceni:
“ - ... foi  0 x 0 porque só teve um time que quis jogar. Eles só se defenderam...” (Folha de S. Paulo, D3). Tinha ou não tinha que rir??
            Tenho muitos amigos sãopaulinos, palmeirenses, santistas, muitos são familiares próximos. Vou me desculpar com eles, antecipadamente, pois sei que vou mexer num dos maiores mitos do São Paulo. Mas não posso perder a oportunidade.
            Hoje eu entendo porque tem muitos desses meus amigos e parentes que detestam o Marcelinho Carioca. Porque ele é muito antipático e metido! E é mesmo!  A torcida corinthiana gosta muito dele, eu não! Sempre o achei metido. Reconheço que é um bom jogador (lembra do gol que ele fez no Edinho?), mas como é da forma que é, nunca foi titular, por exemplo, na Seleção Brasileira. Pelo modo dele de agir! Qual técnico vai correr risco? (Só o Luxemburgo, uma vez). Ele age com antipatia, tem cara de antipático, como tem também o Valdivia, Paulo Nunes e o Diego Souza (lembra deste, depois de expulso, voltando ao campo para passar a rasteira no Domingão?). A estampa deles lembra a dos argentinos, como Maradona, Riquelme, D’Alessandro, Veron (será que o Valdivia não é argentino também?).
O Rogério Ceni não tem exatamente essa cara – ele até parece com o Luciano Huck – que é simpaticíssimo! Mas ele consegue ser  três vezes mais antipático e meti... nem vou usar o termo, é “besta” mesmo, do que os que citei acima, juntos! Não me lembro de tê-lo visto alguma vez, que não fosse com essa “cara-de-besta” que ele tem e só “vomitando” bobagens e agressividades – como estou fazendo agora – para provocar adversários. O que ele tem feito com o Neymar é coisa de gente “besta” mesmo! Ou será que estou errado?
Pois é, ontem ele poderia ter destacado outras coisas para justificar o 0 x 0, mas foi destacar  exatamente o que ocorreu no último clássico, entre Corinthians e São Paulo, só que de forma inversa. Aquele dia era o Corinthians que queria jogar e o São Paulo não. Lembram o que aconteceu? 5 x 0, para o Corinthians!
Então Rogério, quando só um time quer jogar, enfia uma sonora goleada no que não quer e pronto! Simples e fácil assim! De preferência provocando o goleiro do adversário, com chutes de fora da área, até ele comer um “frangasso”... Entendeu??
           
            P.S.: Não fiquei feliz com o 0 x 0  de ontem não! Fiquei triste, porque 1 ponto nestes dois clássicos seguidos, na minha opinião, acabou o campeonato de 2011, para o Corinthians. Vai dar Vasco ou Botafogo. Parabéns Cariocas!

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Causo 27 Que pernas!

Nicanor de Freitas Filho
            Tenho um primo, morador em Belo Horizonte, capital mineira. Há alguns anos – e põe anos nisso – ele tinha uma Variant, da VW, aquela peruinha que na época era um “carrão”. Um dia soltou o cano de escapamento e ficou fazendo aquele barulho chato, de vibração debaixo do carro. Ele andava e ficava aquele plá-plá-plá-plá...
            Ele morava num bairro tranqüilo, bem pertinho de uma Igreja, que não me lembro o nome agora. Ficava a um quarteirão abaixo da Igreja, que como toda igreja, fica sempre num lugar mais alto. Num domingo pela manhã, ele resolveu amarrar o cano de escapamento, até que pudesse mandar consertar, ou quem sabe, talvez, já aproveitava para trocar a “chimbica”. Ele então manobrou o carro e colocou as duas rodas do lado esquerdo em cima do passeio, para poder entrar debaixo e fazer a amarração. O meio-fio era relativamente alto e permitia trabalhar com certa liberdade. Colocou uma caixa de papelão que ele desmontou, para forrar o chão de paralelepípedo e iniciou o trabalho sozinho debaixo do carro.
            Como sabemos, não é fácil amarrar um cano de escapamento, principalmente porque ele não é mecânico. Era acostumado a trabalhar em escritório, com caneta, papel e telefone. Assim ele demorou bem mais do que pensava. Quando ele começou a manobrar o carro para colocar sobre o passeio, o pessoal estava subindo para a missa e agora ele ainda não tinha acabado o serviço, mas a missa acabou e ele ainda estava lá, deitado debaixo daquela porcaria, sem saber como terminar aquela amarração de arame. Já com os dedos doloridos, perfurados, já tinha escapado o alicate e beliscado a mão, ele já estava começando a perder a paciência, quando ouviu os tóc-tóc dos sapatos das pessoas que estavam voltando da Igreja. Ora, a maioria absoluta era mulheres. Naquela época só se ia à Igreja de vestido. Mulher nenhuma usava calças compridas para ir à Igreja. Então, a ponto de perder a paciência, passou a se deliciar com as pernas das moças que iam passando ao lado do carro. Ele deitado, debaixo do carro, ninguém ligava e ele com “aquela” visão raríssima! E cada uma que passava, ele se deliciava e até tentava descobrir de quem era, pois a maioria das mulheres era vizinha dele. Passou um par de pernas lindo e ele pensou logo:
            “ – Tenho certeza que essa é a Sônia. Que pernas lindas, tão torneadinhas!” E era mesmo, ele pode observar colocando a cabeça um pouco de lado.
            Cada uma que passava ele admirava e tentava descobrir de quem era. Aquilo estava ficando bom demais! Ele já estava todo excitado e cada vez mais entusiasmado! Então passou uma, cujas pernas eram “fora de série”. Aquela nem devia ser das vizinhas que ele conhecia. Deveria ser alguma atriz de TV que veio passear por ali e aproveitou para ir à missa com amigas. Ele não agüentou e tirou o corpo quase todo para fora, para ver a cara da beldade! Iria guardar para sempre aquele rostinho angelical!! Surpresa!!!...
Era a mulher dele!!!!!...


P.S.: A do vizinho parece sempre melhor!

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Causo 26 Trampolim-Maquete

Nicanor de Freitas Filho

Já contei aqui um “causo” engraçado com o meu primo, que chamei de Jô, para não citar nomes reais. Ele é filho de um Tio que, acredito ser uma das pessoas mais sérias, corretas e também das mais criativas que conheci. Mas era “bravo”! E como era bravo! E também muito inteligente, adorava as charadas. Se quisesse estar bem com ele, fazia-lhe uma charada, de preferência das que exigem raciocínio,  bem difíceis de resolver. Ele gostava de “quebrar a cabeça” com elas. Muito caprichoso em tudo que fazia, ele era funcionário da Prefeitura, responsável por todo o sistema elétrico de Araxá. Ele queria fazer uma apresentação para o Prefeito e outras autoridades, então construiu uma espécie de maquete, em  cima da mesa de jantar da casa dele, que era muito grande – pois até jogávamos ping-pong sobre ela – fazendo os acidentes geográficos e relevos de barro; os postes eram palitos de fósforo; a fiação era de linha de costura. Ele fez aquilo com o maior capricho, aliás como sempre fazia tudo. Estava quase tudo pronto, secando, na sala.
Acontece que nesta época, foi inaugurado o trampolim da piscina do ATC – Araxá Tênis Clube – e foi uma febre, a molecada toda querendo saltar do novo trampolim, inclusive o Jô. Era aquela briga para ver quem ia pular. Fazia fila na escada para subir e em cima da plataforma do trampolim. Aqueles que conseguiam pular, queriam se mostrar e ficavam demorando para sair de baixo, e, os que estavam na plataforma, ficavam gritando e fazendo gestos com os braços, para os de baixo saírem, pois os que estavam prontos para pular, ficavam com receio de cair sobre os que lá estavam.
O Jô era sonâmbulo e às vezes levantava à noite e fazia algumas coisas engraçadas e outras nem tão engraçadas assim. Os irmãos diziam que não podia acordá-lo assim de qualquer jeito, porque era perigoso qualquer sonâmbulo ser acordado com susto.
O fato é que, numa noite, depois de um agitado dia na piscina do ATC, o Jô teve uma dessas de sonâmbulo, devia estar sonhando com o novo trampolim, saiu do quarto, subiu sobre a mesa-maquete e acordou a todos gritando:
“ – Sai, sai, que agora é minha vez!!!!”  Movimentando os braços e quebrando todo o trabalho do meu Tio, que segundo eu sei, apesar da braveza, não deu a esperada surra no Jô, pois teria entendido que ele não tinha culpa!

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Causo 25 Aprenda a perguntar

Nicanor de Freitas Filho

            Ouvi esta estória num desses seminários de final de semana. Fiz tantos que não sou capaz de me lembrar em qual foi. Lembro que ainda estava na Cia. Melhoramentos, portanto faz tempo! O intuito era de exemplificar como fazer perguntas corretamente, de preferência induzindo o perguntado a responder o que lhe interessa.
            Contaram que um Sacristão, desses bem religiosos, que são Sacristãos por pura convicção, porque gostam e não porque foram forçados àquilo. Ele tinha um probleminha. Como todo mundo naquela época, ele fumava e muito. Era desses viciados mesmo! Fumava o dia inteiro. Mas era também muito religioso e também rezava o dia inteiro.  Um dia, lendo alguns manuais de catequese e outras leituras religiosas, ele mesmo concluiu que não deveria aproveitar para fumar, naquele tempo em que estivesse rezando. Mas também se questionou, porque chegara àquela conclusão, pois sabia que fumar não era nenhum pecado. Ou seja, ele criou uma grande dúvida para si mesmo, se poderia ou não fumar enquanto estivesse rezando. Como ele era muito sério e não cometia nenhum pecado, ainda mais uma coisa boba assim, ele resolveu ir perguntar ao senhor Vigário sobre sua dúvida. Pensou muito tempo de como deveria perguntar. Concluiu que tinha que justificar a pergunta e lá foi ao senhor Vigário e perguntou:
            “ – Senhor Vigário, desculpe-me lhe incomodar, mas preciso tirar uma dúvida com o senhor. Como o senhor sabe, eu sou muito católico e religioso. Eu rezo o dia inteiro e aliás, sinto-me muito bem fazendo isto. Mas como o senhor sabe eu também sou viciado no cigarro. Fumo o dia inteiro! Então queria lhe perguntar se, enquanto eu estiver rezando eu posso aproveitar para fumar?”
            “ – Claro que não meu caro Sacristão. O senhor sabe muito bem que rezar é conversar com Deus. E enquanto a gente conversa com Deus, não se fuma, pois é falta de respeito! Compreendeu?”
            “ – Sim senhor, muito obrigado!”
            E o pobre Sacristão, muito católico começou a ficar pirado, porque, como rezava o dia todo, não podia fumar, pois era falta de respeito. No segundo dia ele rezou e pediu a Deus para lhe ajudar a resolver o problema, pois não agüentava ficar sem fumar, mas não queria diminuir as rezas, porque lhe fazia bem rezar. Pois não é que Deus lhe iluminou a mente e ele voltou ao senhor Vigário e fez a seguinte pergunta:
            “ – Senhor Vigário, sem querer lhe incomodar, preciso tirar outra dúvida com o senhor. Como o senhor sabe, eu sou viciado no cigarro. Fumo o dia inteiro! Não consigo parar de fumar. Tenho fumado a todo momento! Mas como o senhor sabe, eu também sou muito católico e religioso. Eu rezo o dia inteiro e aliás, sinto-me muito bem fazendo isto! Então queria lhe perguntar: como fumo o dia todo, enquanto eu estiver fumando eu poderia aproveitar e rezar também?”
            “ – Claro, meu filho,para rezar não tem hora! É sempre bom rezar!

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Causo 24 No Pacaembu lotado


Nicanor de Freitas Filho

            Vim para São Paulo em 1964, 15 dias antes da “revolução” de 31 de março, quando os militares destituíram o Jango, da Presidência da República. Tinha me formado como Técnico Agrícola e vim para trabalhar na Cooperativa Agrícola de Cotia, que então, era a maior do Brasil. Morei numa pensão na Rua Butantã, bem pertinho dos escritórios da CAC. Mas o que eu ganhava não dava para pagar a pensão e o cursinho. Todo mês tinha que ir à casa do meu primo e lhe pedir cinco contos emprestados. Até que no sexto ou sétimo mês, ele percebeu que não ia mesmo receber o que tinha emprestado, então para “diminuir o prejuízo” (é injustiça dizer assim, mas é o jeito engraçado de descrever o fato), ele me perguntou se eu não queria ir morar na casa dele, porque eles estavam sem empregada e a edícula, do sobrado que ele morava, era mais confortável que a pensão e não teria que pagar nada. Não pensei nem um segundo e me mudei imediatamente para lá. Nem me preocupei com o trabalho que daria para e esposa dele – que só era minha prima por “afinidade” – e, com a maior cara-de-pau fiquei lá quase dois anos. Aliás, dois anos muito bons da minha vida! Além de “ganhar” pai e mãe ganhei mais dois irmãos e muitos amigos.
            Um desses amigos foi o tio da minha “prima-mãe”, que era conhecido, como o Tio Sinhô. Ele tinha um filho e um sobrinho que vinham com freqüência em São Paulo, para fazer compras, já que eles tinham uma confecção e uma distribuição de cosméticos em Uberaba e geralmente dormiam na casa do meu primo.
            Numa dessas vezes, acredito que em 1965, trouxeram o Tio Sinhô para passear. Estando aqui em São Paulo, precisava fazer algo diferente, pois acredito que era uma das primeiras vezes, senão a primeira vez, que vinha a São Paulo. Como todos trabalhavam durante o dia, a diversão teria que ser à noite. Nada melhor do que ir conhecer o Pacaembu: Corinthians X Portuguesa. Naquela época era um clássico paulista e a Portuguesa sempre aprontava para cima o Corinthians. Eu, na verdade ainda era torcedor firme do Flamengo, mas futebol é futebol, ainda mais que o Corinthians tinha coisas boas e ruins naquele ano. Coisas boas eram que o Corinthians tinha sido escolhido para representar a Seleção Brasileira num jogo, se não me engano, contra Inglaterra, além de estar começando a aparecer um tal de Rivelino, que devia ter uns 18 ou 19 anos. Ruim é que tinha levado, no final do ano de 1964, uma surra do Santos de 7 x 4. Era a “era Pelé”!
            Fomos nós para o Pacaembu ver Marcial, Dino Sani, Nei, Rivelino, Jair Marinho, Flávio, Gilson Porto, que eu estou lembrado. Era um timão, como sempre foi! O técnico era o Brandão. Na Portuguesa só me lembro do goleiro, Orlando. Era um “negão” de mais de 1,90 m. O jogo terminou 2 a 2, isto eu me lembro bem.
            Sentamos nas numeradas e o Tio Sinhô ficou entre mim e meu primo. De cara, ele me cutucou e disse: “ – Olha lá nas Gerais. Não fica um décimo de segundo sem acender um fósforo, preste atenção!” E era verdade mesmo. Naquela época todo mundo fumava e a cada milésimo de segundo, fazia-se um foguinho... Ele chamou a atenção várias vezes para o fato. O jogo estava muito bom! Eu pensei: “Será que esse cara veio ao estádio para ficar olhando isso”. Mas fiquei na minha, vendo o jogo, que foi muito bom! Tanto que depois desse dia resolvi ser torcedor do Corinthians também. Era uma torcida muito bonita que dava muita força ao time, ainda que fizesse mais de 11 anos que não ganhava nada. O último título tinha sido o de 1954, do Quarto Centenário. E naquela época o importante era o Campeonato Estadual.
            Já quase no final do jogo, ele perguntou ao meu primo:
“ – Quantas pessoas tem aqui no Pacaembu hoje?”
“ – Deve ter umas 55 a 60 mil pessoas. Tem quase um Uberaba aqui no Pacaembu.”(Naquele tempo, nas Gerais, por exemplo, ficava todo mundo em pé, e vinham até ao alambrado. E nesse espaço, que rodeava o campo todo, aquele montão de gente em pé, entre as arquibancadas e o alambrado. Cabia gente pra valer! Uberaba deveria ter cerca de 70 ou 80 mil habitantes).
“ – Uma coisa, Zé,  como esse pessoal todo volta para casa?”
“ – A maioria volta de ônibus, mas tem gente que volta a pé mesmo. Tem muita gente que vem de carro.”
“ – Então, 60 mil! Será que todo mundo consegue voltar para casa certa? Ninguém erra?”
“ – Como assim?”
“ – Uai! Tanta gente assim, pode acontecer do motorista do ônibus deixar o cara na casa errada, não pode? Pois é gente demais! Será que todo mundo acerta o endereço certinho de volta? É bem possível que o cara chegue na casa deite, durma e no dia seguinte viu que dormiu na casa errada, com a mulher errada, não pode?”
“ – Quá...quá... quá... quá... quá... quá...”